Diferente de outras Unidades da Universidade de São Paulo, a Coordenadoria das Creches, uma das áreas da Vida no Campus (PRIP), não considerou a organização feita pelas trabalhadoras da Creche Central, para acompanhar a partida da Copa do Mundo, transmitida no dia 02/08/2023.
Com a maioria massiva de mulheres em seu quadro de funcionárias, a Creche Central se preparou para, tal como na Copa do Mundo masculina, acompanhar os jogos da Copa feminina, seguindo o acordo que fez com a direção da instituição no dia 21 de julho de 2023, em consonância com as diretrizes colocadas pela Reitoria a todas as trabalhadoras e trabalhadores da Universidade, em 19 de julho de 2023 (GR/CIRC/214). Mais do que uma atitude que desconsidera toda discussão de gênero colocada por meio da história de invisibilização das jogadoras de futebol, há nesta atitude, principalmente se for vista dentro do contexto político no qual estas instituições educativas se inserem, a desvalorização de cada uma das educadoras em sua história de construção das Creches coordenadas pela USP.
Desvalorização no modo como são vistas por estas chefias que quase sempre parecem estar diante de trabalhadoras irresponsáveis, oportunistas, prontas para matar mais um dia de trabalho, na primeira chance que tiverem. Isto quando são vistas.
É de espantar que quarenta anos depois da conquista pelo direito às Creches, fruto da luta organizada, de trabalhadoras (es), estudantes, e movimentos sociais, ainda não exista um único documento que defina e que formalize o lugar e o papel das Creches no âmbito desta Universidade. Quarenta anos de desvalorização e invisibilidade.
A PRIP (Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da Universidade de São Paulo), ao contrário do que o nome anuncia, tem se prestado a um papel habitualmente excludente quando se trata da administração das Creches na USP.
A disputa constante com as trabalhadoras das Creches pela organização do 15 de Outubro, tradicional data em que as Creches da Capital, de São Carlos, Ribeirão Preto e Piracicaba, se reúnem para tratar das questões políticas que envolvem a Educação Infantil no âmbito Universitário; a recusa em dispensar as funcionárias na recente ocasião em que árvores centenárias tombaram, derrubando muros sobre os pátios da Creche Central, tornando o trabalho insalubre por dias, devido a limitação do espaço e ao barulho ensurdecedor das serras cortando os troncos; o impedimento de educadoras, barradas na porta da Reitoria, impedidas de verem a exposição que elas mesmas montaram; a não contratação de funcionárias, necessárias para a manutenção do trabalho de qualidade que a Creche Central, durante quarenta anos, se dispõe a fazer e o fechamento e entrega da Creche Oeste às OSCs, são alguns exemplos deste jogo ideológico onde a Coordenação da Creches, vem efetivamente representando o projeto de exclusão gradual da Educação Infantil dos Campi da Universidade.
A Coordenadoria das Creches, ao não respeitar o acordo feito entre as funcionárias e a direção, revela, mais uma vez, não só a falta de autonomia que imputa às gestões eleitas destas Unidades de Educação Infantil, mas uma grande contradição frente ao que prega à comunidade, pois “valorização da convivência e das atividades de integração e formas de viver” na Universidade, não existe na gestão desta coordenação. Democracia, muito menos.