No dia 9/3/2020, exatamente 42 dias após sua posse, o novo Reitor assinou a primeira demissão de sua gestão e foi justamente de um trabalhador membro do Conselho Diretor de Base (CDB) do SINTUSP.

Certamente Carlotti não teve tempo (ou não se deu ao trabalho) de examinar as mais de 500 páginas do processo iniciado em maio de 2017 contra Leandro Ferreira, técnico de manutenção da Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto (EERP). O certo é que não ouviu o trabalhador contrariando seu discurso de campanha: de que seria aberto ao diálogo. Se tivesse ouvido Leandro, teria ao menos uma noção dos absurdos empilhados no processo e da história de perseguição sistemática que inclusive o levou ao adoecimento.

Leandro conta que entrou na USP em 2011 como técnico e desde o início foi discriminado por funcionários do mesmo setor de manutenção. Humilhações e até acusações de roubo eram constantes. As chefias não só faziam “vista grossa” como incorporaram as agressões às suas rotinas. Na famosa greve dos “100 dias”, em 2014, Leandro engrossou o movimento e se tornou liderança em sua unidade. Aí as perseguições se multiplicaram ao ponto de adoecê-lo.

Em maio de 2017, a USP abriu processo administrativo contra Leandro, alegando o excesso de faltas como motivo para punição. Apesar das repetidas licenças médicas para tratamento de saúde, a EERP nunca se preocupou em amparar o trabalhador, ao contrário, intensificou as perseguições e humilhações.

Foram várias tentativas de Leandro se livrar dessa absurda situação. Fez vários pedidos de transferência e até um pedido de afastamento sem vencimentos para tratar de sua saúde. Tudo negado sem mais explicações.

A fato do adoecimento de Leandro estar ligado ao local de trabalho era tão evidente que em setembro de 2018, o INSS, reconhecendo seu estado incapacidade laboral, o aposentou. O que fez a EERP? Procurou saber o que tinha acontecido? Tentou ajudar o trabalhador? Não, apenas arquivou temporariamente o processo contra ele.

Em janeiro de 2021, Leandro sentiu-se recuperado e pronto para retomar sua trajetória como trabalhador na USP. Procurou o INSS que atestou sua capacidade, recomendando, no entanto, que fosse alocado em outra unidade. E o que fez a USP? Colocou Leandro na mesma unidade, encostado em uma sala e ainda reabriu o processo administrativo para sua demissão.

Há inúmeros absurdos jurídicos no processo e os advogados do SINTUSP já protocolaram pedido de reconsideração ao reitor. Além disso, um dos diretores do Sindicato encaminhou uma mensagem pessoal a Carlotti pedindo que, pelo menos, ele tenha um tempinho para analisar a questão antes que ela vá parar na justiça. Nessa mensagem ao reitor foi reforçado o caráter negativo da imagem dos trabalhadores da USP, que foi nefastamente construída na gestão Zago e que Vaham não se preocupou minimamente em desfazer.

Para quem prometeu valorizar os trabalhadores da USP, começar a gestão com uma ação desastrosa como essa é no mínimo contraditório. Para Leandro e muitos de nós, a sensação de que, em relação às repressões na USP, dias melhores viriam, durou apenas 42 dias.