Na tarde de 6 de outubro, integrantes da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp foram prestar solidariedade e apoio à tripulação do navio Alpha Crucis, embarcação de pesquisa do Instituto Oceanográfico da USP. A tripulação desde navio, como das demais embarcações do IO-USP, está sofrendo ameaças de demissão pela Universidade de São Paulo, sem que os direitos trabalhistas dos mesmos sejam pagos, alegando tratarem-se de “contratos irregulares”. Esta decisão da Reitoria já vem trazendo sérios prejuízos à Universidade e, em especial, a esses trabalhadores, sem contar com o drástico impacto qualitativo que sofrerá as pesquisas e pesquisadores, que deixarão de contar com uma tripulação que tem habilidades, unidade e conhecimentos singulares sobre navegação e pesquisa marinha em águas profundas.

Dentre as muitas pesquisas desenvolvidas em parceria com doutores e estudantes, esta equipe de trabalhadores nos contou que atuou de forma decisiva para que, pela primeira vez no Brasil, fosse realizada uma pesca em águas profundas de onde foram trazidos peixes nunca registrados, espécies únicas.

Bom, mas a questão que se impõe é que a Universidade pode sim demitir seus funcionários, assim como buscar corrigir eventuais erros cometidos por contratos feitos pela própria USP de forma irregular, entretanto o que é extremamente violento e absurdamente revoltante é a atitude despótica desta reitoria que tenta responsabilizar os trabalhadores, não pagando o que lhes é de direito. Incrível como pode ser período o discurso e as ações de uma reitoria que se orgulha de colocar-se como preocupada com seus trabalhadores instaurando uma pró-reitoria de inclusão e pertencimento, quando ao mesmo tempo se presta a colocar na rua, a exemplo, um dos primeiros trabalhadores, negro, condecorado, que fez parte da primeira expedição da Marinha Brasileira como trabalhador da USP, a atuar em pesquisas na Antártica, contratado há mais de 40 anos, assim como outro trabalhador negro, nordestino, Cozinheiro marítimo de alta especialidade, que deixou sua vida na Paraíba, para seguir atuando brilhantemente na tripulação e que agora é colocado nesta situação aviltante e assediosa prestes a perder seus direitos brava e diariamente conquistados. Esses 30 companheiros estão há décadas exercendo seu ofício de forma primorosa, contribuindo para o avanço e protagonismo das pesquisas marinhas, revelando, em parceria com estudiosos, a grandeza do potencial brasileiro. Não, não podemos nos calar.

A Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp repudia esta ação da Reitoria da Universidade de São Paulo, assim como se coloca lado a lado em defesa dos marinheiros do Instituto oceanográfico ameaçados arbitrariamente de demissão! Nenhum direito a menos!

Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.