Após 40 anos trabalhando no Hospital Universitário, vejo sem espanto o hospital ser vítima novamente de decisões equivocadas da reitoria da USP, com 50% dos seus leitos fechados e apenas 2 salas cirúrgicas funcionantes diante de 8 fechadas por falta de funcionários. Não é de hoje a decisão da reitoria de deixar o hospital à sua própria sorte, uma decisão infelizmente aceita pelas chefias da casa.

A diretoria clínica não foi convidada a participar do “comitê de crise,” porque seguramente não concordaríamos com esta posição de fechar o Pronto Socorro tendo 50% dos leitos do hospital inativados. Se o empenho deste comitê fosse o de ativar os leitos, pedir socorro às secretarias de saúde municipal ou estadual, faríamos parte deste projeto. Mas assistir a falência do HU e aceitar esta situação não faz sentido.

Há 2 meses, fiz contato com o ministério público, com a secretaria estadual da saúde através do chefe de gabinete, que se prontificou a se reunir com a superintendência do HU. Tentando marcar este encontro, recebi um não categórico da superintendência.

Se diz que o HU é dispendioso, mas isto não é culpa do corpo clínico, e muito menos da população. Abandonar a população atendida é crime. Retardar cirurgias comprometendo a saúde de quem precisa é irresponsabilidade. Sabemos que os pacientes continuarão chegando e fechar as portas com 50% do hospital desativado é incompetência da Universidade e do Estado.  E há falta de vontade para a resolução deste problema.

A Faculdade de Medicina se omite, e seus alunos aprendem menos com os leitos desativados, pois veem menos casos clínicos, operam menos, etc. A pediatria e UTI tem 50% dos leitos fechados mesmo em um momento de alta de problemas respiratórios na infância.

Quando me convidaram a sugerir propostas para o programa de um candidato a prefeitura de São Paulo, sugeri: “Não construa nada na área de saúde. Coloque o que existe para funcionar”. Esta é a situação do Hospital Universitário da USP e de muitos outros hospitais, abandonados, parcialmente funcionando. O Estado precisa de leitos e nós temos 50% dos leitos fechados. O problema pode não ser só da Universidade, mas o sucateamento do hospital e seu abandono pela reitoria não é uma solução. No comunicado do comitê de crise, escreve-se que as clínicas cirúrgicas e clínica médica tem os maiores problemas. São exatamente as áreas dos responsáveis pelo hospital. Estamos com problemas em todos os PS, mas nenhum com 50% dos leitos fechados por falta de funcionários. São anos de abandono para com o HU, e anos da reitoria tirando seu corpo de campo, enquanto o ensino feito no hospital piora, e o atendimento à população se torna inviável sem que nem a reitoria ou a secretaria de saúde façam algo relevante para resolver esta triste realidade…

João Paulo Becker Lotufo

  • – Doutor em Pediatria pela Universidade de São Paulo.
  • – Representante da Sociedade Brasileira de Pediatria nas ações de combate ao álcool, tabaco e drogas.
  • – Responsável pelo Núcleo de Combate ao uso de Drogas por Crianças e Adolescentes na SPSP.
  • – Membro da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB).
  • – Diretor Clinico do Hospital Universitário da USP
  • – Responsável pelo Projeto Antitábagico do Hospital Universitário da USP.
  • – Responsável pelo Projeto Dr. Bartô e os Doutores da Saúde – Projeto de Prevenção de Drogas no Ensino Fundamental e Médio