O Hospital Universitário da USP (HU), já foi uma das mais importantes referências como hospital-escola e pesquisa/estágio nas áreas de medicina, enfermagem, ciências farmacêuticas, odontologia e nutrição; sendo referência de qualidade no atendimento à população da região Oeste/Butantã, que contribui para financiar a USP e o HU, pagando impostos extorsivos.

Mas, hoje, o HU encontra-se em um processo avançado de desmonte, em completo abandono! Além da deterioração da estrutura predial e dos equipamentos, o HU sofreu uma grande redução da sua capacidade de atendimento e assistência à saúde, devido à drástica redução do número de funcionários, o que também levou ao fechamento de grande parte dos leitos, liquidando as condições de trabalho no hospital. A terceirização é outro problema que afeta o funcionamento do HU. Já foram terceirizadas a nutrição, lavanderia, vigilância, várias funções administrativas e limpeza, acarretando no aumento dos índices de infecção hospitalar.

O preço disso tem sido pago pelos funcionários do HU, que, apesar de comprometidos e altamente capacitados, não têm as condições necessárias para o desempenho de suas funções: expostos ao sofrimento permanente gerado pela sobrecarga de trabalho e pelo estresse. A população também paga tal preço, pois, dentre outras mazelas, sofre com a perda desnecessária de vidas que poderiam ser salvas se a reitoria/CO não insistissem na política criminosa de desmontar o HU, liquidando sua antiga capacidade de atendimento e assistência à saúde.

Os motivos alegados pela administração da USP e do CO para essa política, que levou o HU ao estado em que se encontra, ao custo de vidas humanas, não se sustentam. De início, o motivo seria uma suposta crise financeira que, segundo o Reitor Zago, exigia a eliminação de gastos com manutenção do HU como “única forma de evitar o colapso financeiro” e, então, seria necessária sua desvinculação. Mas a forte mobilização de funcionários, professores e estudantes, na greve de 2014, impediu que o CO aprovasse a desvinculação. Contudo, em resposta à derrota da desvinculação, Zago deu início ao processo de desmonte do HU, visando inviabilizar seu funcionamento, justificando sua entrega para gestão de alguma OSS, como fizeram com o HRAC de Bauru. A política de desmontar/inviabilizar o HU foi e segue sendo implementada por Vahan e Carlotti. Isso prova que se trata de um projeto de toda burocracia acadêmica, composta por reitores e diretores de unidades.

Hoje está inequivocamente provado que o problema do HU não é uma crise financeira, pois a USP tem tido superávits financeiros ano após ano, acumulando uma “reserva” de mais de R$ 8 bilhões. E isso não é tudo: no dia 03/06/25, enquanto o HU agoniza, o Conselho Universitário da USP aprovou o gasto de 281 MILHÕES de reais da USP na compra de um terreno do estado, para depois ceder o terreno ao próprio estado construir um novo prédio para a nova unidade de emergência do HC-FMRP, que deverá ser gerida pelo estado por uma OSS: provavelmente pela própria Fundação da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, mais conhecida por FAEPA.

Ao mesmo tempo que alegam uma crise financeira inexistente para justificar o desmonte do HU, os gestores da USP levantam a hipótese de repassar a gestão do HU para uma OSS, como única via possível para a revitalizar e superar a crise desse hospital, pois, segundo eles, “não é possível tirar o HU dessa situação mantendo sua gestão pela própria universidade”. Mas o que nenhum desses gestores explica é: por que os mesmos professores da USP que sempre estão prontos e aptos a gerir hospitais através de suas fundações (as OSS), declaram-se inaptos para gerir os mesmos hospitais diretamente pela USP?

O real motivo do estado de calamidade em que o HU se encontra e que tem causado mortes que podiam ser evitadas, nunca foi falta de verbas nem a falta de competência. É o contrário disso! O desmonte e a crise do HU são parte de um plano levado a cabo de forma eficiente. Tudo o que está acontecendo no hospital foi previsto e desejado desde sempre, inclusive as mortes desnecessárias de pacientes. O objetivo dos ideólogos desse plano nefasto é transformar o HU em um empreendimento lucrativo a serviço dos negócios das fundações de direito privado (OSS) que, na verdade, não passam de empresas privadas de propriedade de professores do mais alto escalão da USP.

Hoje, tais professores e suas lucrativas fundações/empresas privadas, controlam, a partir do CO e demais órgãos colegiados, toda a USP. Com isso, apropriam-se do nome, do prestígio e da estrutura da USP e do Estado para todo tipo de negócios altamente lucrativos, conforme seus interesses.

Um exemplo disso é a Fundação Faculdade de Medicina, que há anos vem gerindo o Hospital das Clínicas (HC), que utiliza o controle da estrutura do hospital para vender atendimento prioritário a clientes de grupos de medicina privados. Essa fundação/empresa privada, de propriedade de professores da FM-USP e associados, reserva 30% da capacidade do HC para atender pacientes de grupos privados que entram por uma segunda porta, sem fila de espera, gozando de prioridade no atendimento, em detrimento dos pacientes do SUS que esperam meses por uma consulta, quando conseguem.

Outro exemplo disso é o HC da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), gerido com propósitos semelhantes pela FAEPA, uma fundação/empresa privada de propriedade de professores da FMRP e associados. Um verdadeiro balcão de negócios muito lucrativos para essa fundação, que já contou com o ex-reitor Zago e o atual reitor Carlotti na presidência de seu conselho curador. E foi por proposta do então reitor Zago, aprovada no CO, que o HRAC foi desvinculado da USP em 2014 e, oito anos depois, terminou sendo entregue para a Secretaria Estadual da Saúde, já no primeiro ano da gestão Carlotti, para, em seguida, ser entregue à gestão da mesma FAEPA da qual ambos reitores são ilustres associados.

Aí está a origem de todos os problemas que atravessam o HU. Aí está o pano de fundo por trás dos discursos de que a USP não teria mais condições de gerir o HU e que a “única saída viável” seria passar a gestão para uma OSS/fundação/empresa privada. São discursos que comprovam de forma inequívoca o propósito de distintos grupos de professores associados nessas e em outras fundações/OSS, como por exemplo a SPDM, de tomarem sob seu controle a gestão do hospital, de forma a poderem fazer dele mais um empreendimento a serviço dos seus lucrativos negócios. Para tentar dar fundamentos à narrativa de que a gestão dos hospitais se torna inviável quando feita pela USP, gestores universitários passaram a desmontar o hospital. A serviço disso estão as não contratações, a consequente falta de funcionários, a sobrecarga sobre os que restam, o fechamento dos leitos e a deterioração do prédio e dos equipamentos.

Isso pode ser comprovado a partir de fatos como o “investimento” feito pela USP de R$150 milhões no Hospital das Clínicas de São Paulo e mais R$67 milhões no HC de Ribeirão Preto. Um total de R$217 milhões do orçamento da USP investido em dois hospitais pertencentes à Secretaria Estadual da Saúde, enquanto o HU morre à míngua por falta de investimentos para reposição das centenas de funcionários que saíram desde os dois PIDVs, bem como para manutenção e renovação do prédio e dos equipamentos. Ainda mais absurda foi a proposta apresentada pela reitoria e aprovada pelo CO há poucas semanas: um investimento de mais R$281 milhões para comprar um terreno em Ribeirão Preto de propriedade do estado, para o mesmo estado construir uma nova unidade do HC de Ribeirão Preto, em parceria com a prefeitura local. Nesse último caso, o conflito de interesse é escancarado de forma despudorada, uma tapa na cara dos que pagam os impostos que financiam a USP. Pegam dinheiro da universidade, compram um terreno do estado onde o mesmo estado vai construir uma nova unidade hospitalar, depois devolverão o terreno ao estado para que o estado entregue a nova unidade hospitalar para eles administrarem, através de suas fundações privadas. Algo tão absurdo e indecente que ultrapassa todos os limites da razoabilidade e moralidade.

O mais revoltante é ver esses mesmos parasitas proprietários de fundações/empresas entregarem R$498 milhões das verbas da USP para investimentos em dois hospitais da Secretaria Estadual da Saúde, enquanto matam de inanição o seu próprio hospital e, junto com ele, matam também alguns de seus pacientes, mortes que poderiam e ainda podem ser evitadas! A manobra é aberta para quem quiser ver, pois a reitoria e o CO nem tentam mais esconder!

Eles investem verbas da universidade nos dois HCs, o da Capital e o de Ribeirão Preto, porque ambos pertencem à Secretaria Estadual da Saúde e se encontram sob gestão de duas de suas fundações: a Fundação Faculdade de Medicina da capital (FFM) e a Fundação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FAEPA), respectivamente. Dessa forma, ao aprovar o repasse, primeiro de R$217 milhões de verbas da universidade para esses hospitais, em 2022, e mais R$281 milhões agora em 2025, o CO aprovou, na prática, repassar R$498 milhões de verbas da USP diretamente para investimentos nos negócios da FFM e da FAEPA, que, de fundações ditas de apoio, revelam-se de fato entidades parasitárias ao servirem como dutos de escoamento de verbas da USP para financiamento de negócios privados. Negócios que já renderam para a Fundação Faculdade de Medicina até 2023, um superávit acumulado de R$339 milhões e mais R$1 bilhão de reais em aplicações.

Para os grupos de professores associados nessas fundações, desmontar o HU até asfixiar o hospital é mais uma forma de investir nos seus negócios, pois trata-se de construir a narrativa de que o hospital não pode funcionar da forma necessária se estiver sob gestão da própria universidade, ou seja, a narrativa que poderia ser usada para justificar a entrega do hospital para gestão de uma dessas fundações.

Esse é o plano por trás da decisão da reitoria e do CO de não investir na contratação de funcionários para preencher todas as vagas abertas desde 2014, bem como de não investir na compra de novos equipamentos e na recuperação do prédio. Para essa burocracia universitária empresarial, qualquer medida mínima para a revitalização do HU conspira contra os interesses das fundações/empresas privadas que desejam abocanhar o HU para torná-lo parte dos seus negócios bilionários.

Aqui tratamos apenas das fundações que atuam na exploração dos equipamentos de saúde da USP, mas existem várias outras atuando na universidade com os mesmos propósitos de praticar um “capitalismo sem riscos”, trabalhando com o capital da USP, só que em benefício próprio. Segundo uma pesquisa publicada na revista ADUSP, entre os anos de 2020 e 2024 os negócios das fundações, que atuam na USP a partir da utilização do nome e da estrutura material da USP, renderam R$ 1,945 bilhões, somente com cursos pagos. Ou seja, temos aqui uma indústria milionária sugando a estrutura e os recursos da universidade, tal qual um parasita ou um câncer.

Esse desmonte do HU tem agravado ainda mais a já muito precária assistência à saúde da comunidade universitária e, também, da população da região do Butantã e de toda Zona Oeste da capital, que já sofre as duras consequências da desativação de grande quantidade dos leitos hospitalares da região, além do fechamento do Hospital Sorocabano.

É preciso organizar e impulsionar a luta para reverter o desmonte do HU e para garantir a reabertura de todos os leitos hospitalares da região, inclusive os do Sorocabano. Essa é a única forma de assegurar condições de trabalho saudáveis para os funcionários dos hospitais, assistência adequada à saúde da população e, principalmente, evitar que as mortes desnecessárias continuem ocorrendo em números cada vez maiores. A única força capaz de derrotar os propósitos das Fundações (OSS), da burocracia acadêmica da USP e dos governos — transformar os equipamentos de saúde em fonte de lucros para os setores privados — é a mobilização unificada de trabalhadores(as) da USP, incluindo os do HU, junto com estudantes e com a população da região.