A recente imposição de transferência dos servidores da Poli USP de Santos para São Paulo contrasta com os preceitos da PRIP (Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento) da instituição. Isso não deveria ocorrer.
A Universidade de São Paulo informa, com todas as letras, que a PRIP “existe para oferecer condições para que alunos/as, servidores/as e docentes vivenciem a melhor experiência acadêmica e contribuam para a excelência da universidade.”
Os servidores da Poli USP em Santos sempre estiveram a postos para trabalhar pela instituição. E o que recebem em troca? Uma transferência que vai custar caro. Serão despesas adicionais mensais tanto para quem morar na capital quanto para quem enfrentar o desgaste e os perigos de idas e vindas diárias pelo sistema Anchieta/Imigrantes.
Isso tudo sem contrapartida da universidade. Todo o prejuízo pessoal, familiar, financeiro e emocional está na conta dos servidores. Apenas dos servidores.
Pela decisão, esses trabalhadores concursados tiveram três meses para mudar de vida em diversos aspectos basilares. Refazer as contas domésticas; decidir o que será cortado no orçamento da casa; readequar realidades cotidianas de estudo, trabalho, saúde, lazer, cultura, esporte, formação. Essa mudança não pertence aos anseios dos servidores.
Pertencimento é coisa séria, e rupturas de contextos já estabelecidos desafiam até mesmo a saúde mental — que, aliás, é um dos itens defendidos pela PRIP, assim como o bem-estar social. Aspectos que, na prática, são atacados por uma transferência decidida unilateralmente e tão somente comunicada para o “cumpra-se”.
Não estamos falando de mobiliário que se adapta sem traumas em uma troca ou outra de ambiente. São pessoas que construíram laços em Santos. Que em Santos contam com escolas para seus filhos e médicos para as suas necessidades de vida. Escolheram Santos para viver e em Santos trabalham com serenidade porque é Santos, não São Paulo, a cidade na qual se sentem incluídos.
Uma transferência assim quebra todo um ciclo de inclusão e pertencimento; todo um dia a dia já com raízes profundas estabelecidas por relacionamentos profissionais, afetivos, amorosos, paternos, maternos, fraternos…
A USP poderia fazer valer a inclusão e o pertencimento que defende — e não atropelar esses tópicos tão valiosos com uma medida arbitrária e nada humanista. São preceitos que ajudam a escrever a história recente da universidade e que, infelizmente, acabam jogados fora com uma mera canetada de conveniência administrativa.
Tal infeliz decisão de transferência forçada dos servidores de Santos deveria ser reavaliada não só para fazer justiça aos diretamente prejudicados, mas pelo restabelecimento do respeito aos valores preconizados pela própria PRIP.
Luciandréa Pereira
