Por Magno de Carvalho – CSP-Conlutas/Sintusp

Cairo, Egito, Junho de 2025
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Em 12 de junho, chegamos ao Cairo com mais de 4.000 companheiros(as) de 80 países para a marcha a Gaza. De Tunis, Tunísia, partiu um comboio com cerca de 2.000 companheiros(as) para encontrar nossa marcha em Rafah, fronteira com Gaza.

Nosso objetivo: protestar e exigir o desbloqueio da fronteira para a entrada da ajuda humanitária ao povo palestino. Bloqueio feito por Israel para usar a morte pela fome como arma de guerra. Também para mostrar a este heroico povo palestino que a sua luta contra o imperialismo e a opressão é a nossa luta, que a vitória do povo palestino é nossa vitória.

A serviço de Israel, o presidente do Egito, general Sisi, tratou de impedir a marcha a qualquer custo. Muitos companheiros que chegavam eram presos nos aeroportos e hotéis. Duzentos foram imediatamente deportados. O comboio que saiu da Tunísia com militantes tunisianos, Marrocos, Mauritânia e Líbano, e que contou com apoio da população por onde passava, foi barrado na Líbia por um batalhão do exército líbio comandado pelo general conservador Kalifa Raffah: 25 companheiros foram presos. A mídia egípcia, ligada ao governo, dizia que no comboio havia terroristas e que esta marcha poderia comprometer as relações do Egito com os EUA.

O Cairo fica aproximadamente a 400 km de Rafah e a ideia era a de nos deslocarmos aos poucos em vans, ônibus ou carros até Al Arcish, de onde iniciaríamos a marcha de 50 km a pé. No segundo bloqueio montado pela polícia, todos os veículos foram parados e abordados; a polícia tomou os documentos dos motoristas e os passaportes de todos os estrangeiros. Fizemos manifestações que se repetiram por todo o dia, mas tivemos que retornar ao Cairo.

As invasões dos hotéis continuavam com prisões e deportações. Eu e os três companheiros da CSP-Conlutas e Frente Palestina de São Paulo decidimos não ficar em hotéis; alugamos um apartamento no centro. Depois verificamos que as blitzes se concentravam no centro do Cairo. Entregamos o apartamento e fomos para outro num bairro residencial mais afastado. Não tinha nenhuma diferença do que vivemos no Brasil na década de 1970, a não ser o risco de vida muito maior naquela época no Brasil.

Numa reunião online da marcha, nossa microdelegação, depois de avaliarmos a impossibilidade de tentar retomar a marcha — até porque não haveria nenhum motorista disposto a levar qualquer estrangeiro nas estradas rumo a Gaza —, apresentamos na reunião a proposta de reunirmos os que restavam ainda no Cairo (éramos ainda por volta de 1.500) para fazermos uma manifestação no centro do Cairo. Muitos foram contra; e qualquer proposta só é aprovada por consenso: portanto não foi aprovada.

A informação que obtivemos de militantes confiáveis aqui do Egito é que a população, em sua esmagadora maioria, apoia os palestinos e apoia a nossa marcha. Um apoio silencioso, devido à brutal repressão, mas que em alguns momentos podíamos sentir.

Como elemento de avaliação: apesar de não termos realizado o plano original, a repercussão foi muito importante tanto aqui na região, incluindo a Palestina e os países do Norte da África que se mobilizaram, assim como na Europa — alguns com delegações de centenas de pessoas —, o que fez com que até embaixadores se movessem em defesa dos seus compatriotas. Entendemos que, junto com o ataque ao barco da flotilha rumo a Gaza, isso fez crescer as manifestações em várias partes do mundo e coloca uma nova etapa nesta luta em defesa dos nossos irmãos lutadores da Palestina: a ação unificada internacional.

Acredito também que o ataque de Israel ao Irã, com a cumplicidade dos EUA, se tinha como um dos objetivos tirar o foco das atrocidades cometidas em Gaza, foi um tiro que saiu pela culatra, não só pela surpreendente força da resposta do Irã, como pela reação negativa inclusive dentro dos países do centro do capital, inclusive nos EUA.

Devemos aproveitar o momento para intensificar a mobilização tanto nos nossos países como nas ações conjuntas internacionais.

PALESTINA LIVRE DO RIO AO MAR