Boas-vindas aos calouros, calouras e caloures da USP!
Nós do Sintusp – Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo – queremos dar as boas-vindas aos ingressantes de 2025 que furaram o filtro social do vestibular nesta que é uma das mais importantes, e também uma das mais elitistas, universidades da América Latina.
Nos dirigimos aos estudantes da universidade com quem compartilhamos o mesmo local de estudo e trabalho porque entendemos que é preciso defender a universidade pública contra uma lógica privatista de ensino e pesquisa que tem resultado, na USP, em cortes de investimentos em permanência estudantil, o que dificulta alunos de baixa renda de se manterem na universidade estudando, precarização do trabalho, com congelamento de contratações de funcionários técnico-administrativos que resultam em estágios mal remunerados para substituir funcionários, precarizando a própria permanência estudantil, além do avanço da terceirização e falta de professores, com contratações precárias que limitam a pesquisa e orientação.
Somos nós, trabalhadores da USP, que garantimos que as salas de aula estejam prontas, os laboratórios equipados, as bibliotecas organizadas e os campi em pleno funcionamento. Somos parte indissociável da vida universitária, da pesquisa e do ensino não apenas a partir do exercício das nossas atribuições, mas porque somos parte da luta em defesa da Universidade pública a serviço dos trabalhadores e do povo pobre.
Ao longo dos anos, o Sintusp esteve presente em momentos cruciais da história da USP e do país. Ainda como associação de trabalhadores da USP (ASUSP), os trabalhadores da USP foram cruciais para a conquista da autonomia universitária. Com o fim da ditadura, que proibia sindicatos de servidores públicos, fomos o primeiro sindicato do funcionalismo a ser fundado em 28 de outubro de 1988. Encontramos os resquícios da ditadura na USP até hoje, já que no Estatuto da USP, herdeiro do regime militar, o direito de greve e sindicalização ainda é proibido. Um dos marcos mais significativos de nossa trajetória foi a resistência aos decretos do então governador José Serra, em 2007, que ameaçavam a autonomia universitária para fragilizar o caráter público da USP. Na época, o Sintusp, junto ao movimento estudantil, organizou greves, manifestações e ocupações que paralisaram a universidade e mostraram a força da mobilização unificada. Essa luta não só garantiu a revogação dos decretos, mas também reforçou a união entre trabalhadores e estudantes na defesa da universidade pública.
Nós do Sintusp sabemos que a defesa das nossas condições de trabalho depende da universidade e da defesa dos interesses dos estudantes. Por isso, para nós, construir uma forte unidade com professores e estudantes é fundamental.
Quando falamos em nome dos trabalhadores da USP, nos referimos aos trabalhadores efetivos, mas também aos terceirizados, que hoje ocupam principalmente os postos de trabalho nos restaurantes universitários, na vigilância e controle de acesso e, principalmente, na higiene e limpeza, onde se concentra a maioria das trabalhadoras terceirizadas (as mulheres negras são maioria absoluta nesses postos). Nossa luta hoje contra a privatização da Universidade, da pesquisa e seus saberes, passa por uma luta feroz contra a terceirização, para que todos trabalhadores hoje terceirizados tenham iguais direitos e igual salário e que sejam efetivados sem a necessidade de concurso, pois já trabalham na universidade. A luta contra a terceirização é uma luta contra o fechamento de postos de trabalho e o avanço dos contratos precarizados que, além do frágil vínculo empregatício, resultam em baixos salários, sobrecarga de trabalho e acidentes de trabalho, alguns até fatais.
A terceirização na USP carrega todos os problemas que a precarização das relações de trabalho traz: vulnerabilidade sobre direitos, sobrecarga de trabalho, baixos salários, assédios moral e sexual e adoecimentos físico e mental. Combater a terceirização e lutar pela efetivação é parte fundamental da luta contra o projeto privatista de universidade.
Vocês que ingressam neste ano, e muitos dos que ingressaram na USP nos anos anteriores, não sabem que antes de existirem os ônibus circulares da SPtrans e o cartão BUSP, os circulares pertenciam à universidade, dirigidos por funcionários da USP, onde todos que circulavam pelo campus da capital podiam usá-lo, independentemente do tipo de vínculo com a universidade. Com a mudança nos circulares de forma arbitrária pela reitoria da USP, além de fechamento de postos de trabalho, sem novas contratações para motoristas e privatização do serviço de transporte, a reitoria impôs também um controle de acesso aos circulares através do cartão BUSP, limitando o uso do circular para professores, estudantes e funcionários efetivos apenas. Milhares de trabalhadoras terceirizadas foram deixadas de fora e atravessam o campus para chegar ao local de trabalho a pé. Se querem ir ao banco no horário de almoço ou se precisam ir a algum lugar ou pagam a tarifa completa ou vão a pé sob sol e chuva.
Desde 2023, o Sintusp, junto com juristas e intelectuais, impulsiona o Manifesto contra a Terceirização e a Precarização do Trabalho, levando a frente a luta pelo Busp para as terceirizadas como uma forma de denunciar a segregação que as trabalhadoras terceirizadas sofrem na universidade. Além disso, como parte da luta contra a escala 6×1 que oprime os trabalhadores, denunciamos que são as trabalhadoras terceirizadas hoje aquelas que cumprem essa jornada exaustiva e cruel. A luta em defesa das trabalhadoras terceirizadas é crucial para combater os projetos de privatização da USP e é uma luta que precisa ser tomada por todos nós, funcionários, estudantes e professores.
A luta contra as fundações privadas e a estrutura de poder da USP
Os trabalhadores da USP também enfrentam uma batalha contra as fundações privadas, que submetem a pesquisa, a cultura e a extensão aos interesses de empresários, desvirtuando o caráter público da universidade. Essas fundações, que atuam como braços da privatização. Um exemplo emblemático é a luta para reverter a desvinculação do HRAC (Centrinho – Bauru) e o sucateamento do Hospital Universitário (HU), que são ataques diretos à saúde pública e à universidade. Além disso, a estrutura de poder da USP, centralizada na Reitoria e no Conselho Universitário (CO), é profundamente antidemocrática. A burocracia universitária, composta por diretores de unidades e membros de entidades privadas, controla as decisões, contra os interesses da maioria de estudantes, funcionários e até mesmo professores em níveis inferiores da carreira docente.
Neste momento de ingresso na USP, fazemos um convite à reflexão sobre os rumos da universidade e do direito ao trabalho e estudos de forma digna e com qualidade. Queremos estar ombro a ombro na luta em defesa das pautas estudantis mais sensíveis e autonomia do movimento estudantil e sindical frente às iniciativas da reitoria contra a organização dos estudantes e trabalhadores. Somente uma forte unidade entre as três categorias, funcionários, professores e estudantes, pode impor uma derrota ao projeto de privatização da universidade e transformá-la em uma USP verdadeiramente a serviço dos trabalhadores e do povo pobre.
Sejam bem-vindes às lutas na USP e contem conosco!
Sintusp – Sindicato dos Trabalhadores da USP