TODO APOIO À LUTA DOS ESTUDANTES NEGROS DA ESCOLA DE APLICAÇÃO!!!
SUA LUTA É NOSSA LUTA!!! RACISTAS NÃO PASSARÃO!!!
É de amplo conhecimento que vivemos em um país profundamente racista em que as pessoas negras são tratadas como inferiores em relação a pessoas brancas em vários aspectos da vida. São muitos os exemplos de como o racismo é uma forma de opressão muito profunda, construída ao longo da história para justificar uma suposta superioridade da elite colonizadora e atrocidades como a escravização de cerca de 13 milhões de mulheres, homens e crianças que foram arrancados de sua terra para trabalhar de forma forçada, sendo submetidos aos piores castigos, torturas, mutilações e a uma vida de trabalho em prol do enriquecimento de outros. As mulheres negras foram vítimas de todo tipo de abuso, estupros e violências. O racismo foi amplamente disseminado e é sustentado até os dias de hoje por instituições como o Judiciário, o Congresso Nacional, Executivo permeando o conjunto da sociedade. Nunca é demais relembrar que o capitalismo desde sua origem tem no racismo um de seus sustentáculos e faz com que os negros sejam a maioria entre os desempregados, ocupando as piores médias salariais, são empurrados para os piores postos de trabalho com menores direitos e salários. A USP não está alheia a essa realidade, ao contrário, foi e continua sendo uma universidade profundamente racista. Um dos vários exemplos é o fato da USP ser a última universidade do país a aprovar as cotas raciais, depois de se recusar a ouvir o movimento negro, ameaçar de despejo sistematicamente o Núcleo de Consciência Negra da USP e processar trabalhadores negros e estudantes que lutavam em defesa das cotas raciais. Esta universidade até os dias de hoje mantém uma verdadeira segregação entre os trabalhadores terceirizados dos trabalhadores autárquicos e concursados em relação a direitos. A fato observar que a maioria dos funcionários terceirizados são mulheres negras que não tem sequer o direito de usar o mesmo ônibus que os demais integrantes da comunidade universitária. Para se ter uma ideia, ao mesmo tempo que a esmagadora maioria dos trabalhadores terceirizados são negros, entre os docentes a situação se inverte, ou seja, entre mais de 5 mil professores a USP tinha até o ano passado, apenas 119 docentes são pretos, pardos e apenas um é indígena, ou seja menos de 3%!!! Não bastasse isso a USP já foi questionada três vezes na Justiça e teve concursos paralisados, por desrespeitar a legislação estadual que prevê a obrigatoriedade de cotas para pretos, pardos e indígenas nos concursos que abre. Esse é um terreno fértil para que se multipliquem os casos de racismo nas unidades envolvendo professores e estudantes, chefias e trabalhadores. Este mecanismo racista tem sido inclusive reproduzido entre os próprios trabalhadores e estudantes mostrando que, a despeito do discurso de inclusão e pertencimento a reitoria da USP, o que vigora e se mantém é a sustentação o racismo.
Há anos a Escola de Aplicação da USP vem sendo atravessada por diversos casos de racismo contra estudantes negros relatados pelos próprios estudantes e por seus familiares. São situações extremamente graves que vão desde acusações totalmente falsas e levianas a estudantes negros, atitudes de professores, de profissionais dos diversos seguimentos da escola e também entre os próprios estudantes. Isto desvela e expressa o tratamento opressivo e violento aos estudantes negros. Lamentavelmente diante da exposição desses casos a direção dessa escola se recusa a entender que é impossível separar a escola do conjunto da sociedade e que é necessário encarar os repetidos casos de racismo relatados pelos estudantes e seus familiares e não os acobertar. Diante da omissão por parte da direção da Escola de Aplicação e a persistência de novos casos de racismo, os estudantes negros da Escola de Aplicação vieram tomando a frente de se auto-organizar para impulsionar medidas de protesto contra os casos de racismo colando cartazes e insistindo que a Escola de Aplicação reconheça esse problema, estabeleça protocolos para tratar casos futuros e intensifique muito mais as medidas de formação para os professores, profissionais da escola e estudantes de modo a tomar medidas efetivas sobre essa situação. Lamentavelmente no dia 04/10 os estudantes negros da Escola de Aplicação organizaram um protesto com a colagem de lambes nos muros da Escola de Aplicação e tiveram seus cartazes arrancados, além de serem abordados de forma totalmente truculenta pela guarda universitária, até a polícia militar foi acionada e duas viaturas ficaram rondando o DCE, intimidando alunos, provocando medo e pânico enquanto os adolescentes estavam ali para se abrigar.
Nesse mesmo dia, diante do protesto dos estudantes um dos diretores do Sintusp teve uma atitude grave e completamente equivocada diante do protesto dos estudantes contrariando os princípios do próprio sindicato que são de apoio à toda luta contra qualquer forma de opressão. Tal postura foi debatida nas instâncias do sindicato e, como resultado do debate o diretor reconheceu o erro, se autocriticou e pediu desculpas publicamente. Esse tipo de debate é necessário e urgente e é o que permite não naturalizarmos entre os trabalhadores e os lutadores qualquer atitude que reproduza de alguma forma entre nós a ideologia da classe dominante. Apesar da dureza, o resultado dessa discussão reafirma como a classe dominante, o Estado e as instituições como o Judiciário e polícia racista e assassina são os principais interessados na perpetuação do racismo e não vão acabar com essa forma de opressão, ao contrário. Mostra também que é entre os trabalhadores, os lutadores e seu sindicato que todos os setores oprimidos podem encontrar um ponto de apoio para seguir em frente nessa luta que é de todos nós e precisa avançar na unidade da nossa classe para enfrentar o racismo, todas as formas de opressão e a exploração capitalista. Para isso é fundamental fortalecer a organização das trabalhadoras e trabalhadores negros como a Secretaria de Negras e Negros do Sintusp, os coletivos de estudantes negros dentro e fora da USP para junto a classe trabalhadora e seus aliados golpear o racismo no seu coração.
Em reunião com a direção da Faculdade de Educação e da Escola de Aplicação lamentavelmente as responsáveis manifestaram maior preocupação em repreender os estudantes e defender a tinta da parede, do que aquilo que realmente está deteriorando e pode apodrecer por dentro o ambiente escolar: o racismo!! O SINTUSP QUE É O NOSSO SINDICATO manifesta seu total apoio à luta dos estudantes negros da Escola de Aplicação e se coloca lado a lado em defesa das suas legítimas reivindicações!! A direção da Escola de Aplicação e da Faculdade de Educação não tem o direito de ingerir na forma de organização dos estudantes negros e em seus métodos de luta!! Repudiamos a atitude truculenta da Guarda Universitária e a presença intimidatória da PM contra os alunos da Escola de Aplicação! Não aceitamos nenhuma forma de punição ou perseguição a esses jovens lutadores. E convidamos a todos a fortalecer a organização dos trabalhadores, estudantes e professores para lutar contra o racismo dentro e fora da USP!!!