A greve dos estudantes da USP é para nós, funcionários desta universidade, um sopro de vida e de luta diante de ataques profundos que sofremos nos últimos anos, por parte de uma burocracia acadêmica aliada a um punhado de empresários, que tentam impor goela abaixo um projeto de universidade voltado aos seus interesses, em detrimento dos interesses da maioria: da classe trabalhadora e do povo pobre que sustentam a universidade. A luta legítima pelo direito elementar de estudar, por contratações de professores e permanência estudantil foi e continua sendo saudada pelos trabalhadores. Ao incorporarem a defesa de contratação de funcionários às suas pautas, os estudantes deram um enorme exemplo de unidade entre os três setores desta universidade, que tem um inimigo comum: a reitoria! Ou melhor, o projeto de universidade de uma casta parasitária que, em nome de interesses próprios, avança com a subordinação das pesquisas aos interesses privados e com a terceirização que nada mais é do que drenar o dinheiro público para a iniciativa privada através da precarização do trabalho.

A reitoria e seus capangas (diretores e burocratas que não se furtam de tomarem medidas autoritárias, como impedir uma Assembleia de acontecer ou de tentar criminalizar o movimento estudantil com falsas acusações de vandalismo) deram, repetidas vezes, mostra da intransigência em dialogar sobre as legítimas pautas estudantis.

Vão além: tentam colocar estudantes e trabalhadores em lados opostos para nos dividir, enquanto avançam na retirada de direitos de todos nós. Na última ata da negociação entre a reitoria e os representantes dos estudantes em greve, a reitoria apresentou suas propostas, que achamos que cabe ao movimento estudantil avaliá-las. No entanto, a respeito dos funcionários e da falácia da reitoria (de que estaria adotando uma política de reposição automática de funcionários) gostaríamos de demonstrar o quão falsa é tal afirmação!

Em primeiro lugar, de 2014 para cá, o número de funcionários caiu de 17.200 para 12.853. Essa queda deve-se à política deliberada da reitoria de aprovar um PIDV (Plano de Demissão Voluntária) que fechou 3 mil postos de trabalho. Além disso congelou as contratações: são 10 anos sem concurso! O déficit de funcionários é de mais de 4.300. Isso significa que um hospital como o HU não tem funcionários o suficiente para atender a comunidade USP e a população do entorno. Que os três bandejões do Campus Butantã, que não eram privatizados, foram reduzidos a somente um atualmente: com funcionários exaustos e lesionados por causa da condição de trabalho. Daí as filas imensas nos almoços e jantares ao longo da semana. Isso foi uma política deliberada de sucateamento implementada pela reitoria. Os restaurantes que foram terceirizados têm hoje um número muito menor de trabalhadores, recebendo salários miseráveis, com atrasos de pagamento e alta rotatividade, graças ao adoecimento físico e mental! E tudo isso não é para economizar dinheiro, pois pasmem: o custo de um restaurante terceirizado é superior ao do restaurante público da USP. A terceirização só serve para precarizar a vida dos trabalhadores e drenar o dinheiro público para o bolso dos empresários!

Além disso, é preciso dizer: a reitoria não está repondo o quadro de funcionários. Mesmo se pegarmos como referência o ano de 2017, quando a USP tinha 13.718 funcionários, com os concursos abertos neste ano, foram oferecidas menos de 200 vagas, a maioria de nível superior, apenas 17 de nível médio e nenhuma vaga de nível básico: para as funções ligadas aos bandejões ou à manutenção das unidades, por exemplo. Ao contrário, a reitoria está reduzindo o quadro de funcionários! É tão falsa a alegação de reposição automática de funcionários, que sequer os postos de trabalho dos nossos companheiros que morreram pela Covid-19 foram repostos. Ao contrário, a reitoria avança para DEMITIR SUMARIAMENTE 35 trabalhadores dos navios do Instituto Oceanográfico atracados em Santos.

No restaurante central, o único que ainda não foi totalmente terceirizado, o nível de adoecimento físico e mental é brutal. Para abrir o restaurante aos sábados, as escalas semanais são prejudicadas e a PRIP e a reitoria se negam a contratar mais funcionários para suprir a demanda. A sala de louça, que é o setor mais sobrecarregado, já contou com 14 trabalhadores e hoje conta com meia dúzia de trabalhadores terceirizados que não podem sequer comer a comida servida no próprio restaurante e jogada no lixo quando se encerra o serviço. Essa é a cara dessa reitoria e da burocracia racista que chama de agressivas as estudantes negras, que se refere aos piquetes como favelinha. Onde se concentra a maioria dos trabalhadores negros na universidade, está concentrada a precarização do trabalho e os ataques mais brutais!

Ao mesmo tempo que ataca estudantes e trabalhadores, a USP possui uma reserva financeira de mais de 5 bilhões de reais. Essa reserva só pode ser conquistada graças a uma política de congelamento de contratações, arrocho salarial e corte de bolsas. Essa política não é fruto de uma ou outra gestão, mas foi votada pelo Conselho Universitário sob o nome de “PARÂMETROS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA USP” (Resolução 7344), apesar dos protestos dos três setores, que foram recebidos pela reitoria com bombas e balas de borracha em 2017.

Esses parâmetros, diga-se de passagem, contaram com o apoio irrestrito do atual reitor e vice-reitora, que agora tentam lavar as mãos, atribuindo a responsabilidade, que dividem igualmente, aos seus antecessores.

Não permitiremos que a reitoria tente nos dividir! Tampouco permitiremos que avancem na repressão ao movimento estudantil e seus lutadores. Estaremos ombro a ombro na luta legítima dos estudantes contra as falácias da reitoria e contra qualquer punição aos lutadores: seja pela reitoria, seja por diretores nas unidades. Nenhuma punição aos que lutam!