Há poucos meses, a Superintendência de Saúde da USP, sob comando do Prof. Paulo Lotufo, emitiu uma portaria de conteúdo reacionário, que constitui, de fato, uma ameaça de punição a trabalhadores adoecidos que pegarem atestados médicos. Uma aberração que já seria intolerável até mesmo em uma empresa privada, mesmo no capitalismo mais selvagem e que, numa universidade pública, cujo reitor é também médico professor de medicina, só pode ser entendida como ato de violência premeditada.
Sendo professor de medicina, o Dr. Lotufo deveria saber, e ensinar aos futuros médicos/as, que nos casos em que o repouso seja necessário para a recuperação do paciente, o atestado é uma parte indispensável da prescrição, feita em separado da receita de medicamentos, apenas por que repouso não é produto vendido e nem distribuído em farmácias.
O SINTUSP não pode e não vai aceitar que trabalhadores e trabalhadoras da USP sejam obrigados a trabalhar doentes, em situação em que o repouso seja necessário para a sua recuperação, por conta de dois médicos (o reitor e o superintendente de saúde) que se acham no direito de colocar sob suspeita não só a honestidade dos trabalhadores da universidade, mas também a idoneidade dos seus colegas de profissão.
Exigimos do reitor da USP e do seu superintendente de saúde que revoguem a portaria SAU n° 01/2023 e parem imediatamente de tratar os trabalhadores e trabalhadoras da USP como se fossem um bando de fraudadores sob suspeição permanente e passem a respeitar seu direito de tratamento pleno da saúde, incluindo o repouso (atestado) sempre que necessário, sem que o médico e o paciente sejam constrangidos com ameaças de denúncias e punições.
Que os senhores Carlotti e Paulo Lotufo acreditem que alguém, dentre seus colegas de profissão, poderia estar agindo de forma incompatível com a ética médica, só podemos lamentar. Mas não podemos aceitar, em hipótese alguma, que os próprios venham a transgredir e a tentar impor aos seus colegas a transgressão da mesma ética, pela via oposta, constrangendo-os através de ameaças, à negação do necessário repouso (atestado) aos seus pacientes, com o consequente agravamento do estado de saúde de trabalhadores doentes.
Sem política de saúde, impõe-se uma política de morte!
Sob comando e/ou influência de gestores associados a interesses de fundações e de grupos corporativos de medicina privada, a USP se distanciou de qualquer política de saúde em prol da assistência à população e à comunidade universitária e adotou uma política de morte em prol dos lucros.
Para comprovar isso, temos o HRAC desvinculado da universidade e com seu quadro de funcionários entregues para gestão de uma fundação de direito privado, à qual o atual reitor e dois de seus antecessores (Zago e Suely Villela) são associados; temos o HU desmontado deliberadamente, necessitando da contratação de, no mínimo, mais 500 profissionais, com sua estrutura e parte dos equipamentos deteriorados e sua capacidade de funcionamento reduzido a pouco mais da metade do que era em há dez anos; temos os Centros de Saúde Escola desmontados por falta de funcionários e de investimento e, em parte, já entregues para as OSSs.
Como consequência, os funcionários que restam no hospital se arrebentam e adoecem de trabalhar, enquanto a comunidade USP e a população têm acesso cada vez mais restrito ao atendimento e tratamento no hospital, onde pacientes permanecem na sala de observação do PS, esperando por cirurgia, acomodados em poltronas por falta de leitos e macas.
Enquanto as sucessivas gestões da universidade se ocupam de pensar e implementar formas de colocar a universidade, seu nome e sua estrutura (incluindo seus equipamentos de saúde), a serviço do lucro de suas fundações e de seus parceiros do setor privado, trabalhadores morreram durante o trabalho e vários outros sofreram morte súbita sem que medidas preventivas pudessem ter sido adotadas em defesa de suas vidas, pois muitos chegaram ficar até cinco anos ou mais sem o exame periódico anual obrigatório.
Se esses fatos não bastam para comprovar a política de morte adotada pela reitoria da USP e pelo Conselho Universitário, a portaria da SAU que ameaça com processo administrativo e punição os trabalhadores que apresentarem atestados, sob a acusação de “prejudicar o trabalho”, veio para eliminar quaisquer dúvidas a respeito.
Um exemplo da política de morte da USP levada à prática
Um funcionário lotado no Pool de transportes da USP, cujo nome vamos preservar, está passando por uma situação que não pode ser nominada se não como uma violência insidiosa.
Está com câncer de pulmão e com enfisema pulmonar e, mesmo assim, a medicina do SESMT declarou o companheiro apto para o trabalho de lavar e aspirar os veículos, o que implica em obrigar o companheiro a trabalhar com partes do corpo molhado, na maior parte do dia, e inalando poeira e produtos químicos utilizados cotidianamente nesse trabalho.
É muito provável que essa violência venha a abreviar o tempo, bem como acabar com a qualidade de vida que resta ao companheiro.
O sindicato já encaminhou pedido de audiência com a direção do SESMT, para tentar reverter esse absurdo! Não podemos e não aceitaremos!
Auxílio Saúde
Um benefício ou um ataque ao nosso direito de assistência gratuita à saúde, nossa e de nossos dependentes? Trataremos desse tema num próximo boletim.