Manifestação da diretoria do Sintusp em solidariedade ao professor Kabenguele Munanga e à Adusp

Acompanhamos, no início do mês de junho passado, um episódio lamentável protagonizado pela vice-reitora da USP quando da cerimônia de reconhecimento do professor Kabenguele Munanga (um dos primeiros docentes negros da USP) com o título de professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Em seu discurso na cerimônia, o professor Kabenguele criticou a postura conservadora da universidade em relação às cotas étnico-raciais ao longo das últimas décadas afirmando que: “A USP renunciou à sua posição de pioneira e vanguarda intelectual para assumir uma postura conservadora, presa ao darwinismo social dominado pelo discurso da defesa do mérito, da qualidade e da excelência, diante da exclusão do universo universitário de milhões de jovens de ascendência africana, indígenas e brancos pobres, oriundos da escola pública”. Frente a essa declaração a vice-reitora, professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, pediu a palavra para, de forma inédita e completamente descabida confrontar as opiniões de Kabenguele Munanga menosprezando a extensa, reconhecida e original contribuição científica desenvolvida por Kabenguele, em função de sua crítica, tentando ocultar o evidente e profundo racismo e elitismo da USP, defendido e preservado na atual gestão mesmo que sob um discurso de “inclusão e diversidade”. Não bastasse essa atitude absurda da vice-reitora, o Conselho do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, departamento que a vice-reitora faz parte, emitiu uma nota reafirmando e defendendo a vice-reitoria que supostamente estaria sendo atacada nas redes sociais.

A USP foi uma das últimas universidades do Brasil a adotar, apenas em 2017, as cotas étnico-raciais para candidatos pretos, pardos e indígenas depois de ignorar por décadas as reivindicações do movimento negro dentro e fora da universidade, atacar o Núcleo de Consciência Negra e perseguir, estudantes e funcionários (que chegaram a ser ameaçados de demissão por justa causa) porque lutavam em defesa das cotas étnico-raciais. Não é demais lembrar que em uma das últimas reuniões do Conselho Universitário a reitoria e a esmagadora maioria dos diretores de unidade, majoritariamente branca, se recusaram a reconhecer as cotas étnico-raciais para o ingresso de docentes na USP e foram obrigados a rever a escassa contratação de funcionários que sequer atendia o critério mínimo de reservas de vagas para ingresso de candidatos negros, pardos e indígenas na universidade. Em uma universidade que se arvora a posição de uma das 100 melhores universidades do mundo, o racismo se mantém, não apenas nas declarações de representantes institucionais da USP, na sua política que desmonta e precariza as condições de ensino, trabalho e pesquisa. Sob o lema de “Inovação” a reitoria e o Conselho Universitário da USP tornam essa uma universidade cada vez mais aberta e atrelada aos interesses do mercado (inclusive de empresas como a Ifood que semi-escraviza a juventude negra) e de costas para os interesses do povo trabalhador, pobre e negro que são maioria no país. Prova disso é que na USP a terceirização, que atinge muitas mulheres negras, legaliza que trabalhadoras terceirizadas sequer recebam em dia seus salários e direitos como se mostrou recentemente na Faculdade de Medicina da USP e em São Carlos, além de serem segregadas e impedidas de utilizar gratuitamente os ônibus circulares no interior da Cidade Universitária, uma condição escandalosa. Não é demais lembrar que entre os trabalhadores do Instituto de Oceanografia que a reitoria ameaça de demitir há vários trabalhadores negros, assim como naqueles setores mais atingidos com a precarização e desmonte da universidade como o HU, creches, bandejões, Prefeituras dos Campi da Capital e Interior, bem como das áreas operacionais de todas as unidades e é incontornável reconhecer que o racismo institucional atravessa cada uma dessas políticas. Da mesma forma, esse mesmo projeto de universidade torna o acesso ao ensino e ao resultado das pesquisas algo completamente distante da realidade da maioria das negras e negros em nosso país, que como resultado de séculos de escravização e de exploração pela classe dominante ainda hoje compõem os setores mais pobres da sociedade em todo o país.

Por tudo isso manifestamos nossa total solidariedade ao professor Kabenguele Munanga, diante dessa atitude completamente absurda por parte da vice-reitora da USP, nos somamos às suas críticas feitas ao conservadorismo da universidade e reafirmamos a necessidade de lutar contra o racismo e o elitismo da USP e na sociedade. Manifestamos ainda nossa inteira solidariedade e apoio à manifestação da Adusp diante desse ocorrido e repudiamos a postura da vice-reitora e a nota do Departamento de Sociologia da FFLCH que faz menção a um suposto ataque sofrido pela vice-reitoria da USP.

Diretoria Colegiada Plena do Sindicato dos Trabalhadores da USP