Os trabalhadores do HU relatam que as quedas de energia se tornaram constantes desde o início de 2023, às vezes caindo mais de 10 vezes num intervalo de poucas horas. A energia do HU está sendo sustentada por um gerador e milhares de reais já foram gastos para supri-lo com diesel.

Com isso, o ar-condicionado central que refrigera o Centro Cirúrgico deixa de funcionar e a temperatura na sala de cirurgia pode atingir(ou talvez até superar) os 30°C, temperatura proibida pelo risco de contaminação. Não é possível sustentar os equipamentos da UTI e colocar para funcionar ao mesmo tempo as cirurgias. Todas as cirurgias programadas foram canceladas nesta semana.

Diversos equipamentos médicos, de cozinha, computadores e outros foram danificados. Falta água quente para banho de pacientes. Os que conseguem se locomover pegam senha e enfrentam fila para tomar banho. Os trabalhadores da caldeira do HU trabalham em condições de risco!

Quando chove, são espalhados baldes pelo hospital para conter as goteiras existentes em todos os setores, que continuam a pingar mesmo quando a chuva cessa. Há um temor geral de que possa haver curto e incêndio e não há saída de emergência.

Não podemos esperar de braços cruzados que as pessoas que estão desmontando o HU resolvam esses problemas. O HU é nosso: das e dos trabalhadores da USP, estudantes e da população usuária.

É preciso conversar e debater em todas as unidades para decidirmos unificadamente como podemos enfrentar e reverter esse desastre em que nos encontramos, garantindo condições segura de trabalho e a manutenção desse hospital público.

Reitoria leva o HU à situação de CALAMIDADE com sua política de desmonte

A falta de pessoal é um problema crônico que acarreta falta de condições de trabalho minimamente dignas e seguras. E a sobrecarga de trabalho não assegura o atendimento da comunidade interna e da população da região.

Agora parece que estamos chegando a uma situação limite em que a falta de pessoal, as recorrentes faltas de energia elétrica, a deterioração progressiva do prédio e demais instalações estão levando o hospital ao colapso. Está na hora de encarar que nada disso que ocorre no hospital é obra do acaso, pelo contrário, tudo isso que estamos vendo e vivendo é o resultado de um projeto político que os órgãos deliberativos da Universidade e do hospital vem executando criteriosamente.

Os fatos escancaram a política intencional da reitoria desmontar o HU. Vejam:

1) A reitoria e a administração do HU alegam que a USP não tem condições de financiar o hospital e é lenta para realizar contratações.

Esse discurso não passa de uma enorme e insustentável mentira! A USP financiou e administrou o HU por mais de quatro décadas e em tempos em que a folha de pagamento comprometia quase 100% da cota parte do ICMS que recebia do estado.

Mas hoje, em função dos PIDVs e do arrocho salarial, o comprometimento dessas verbas com folha de pagamento está em torno de 70%, restando portando cerca de 30% de verbas para o custeio.

As reservas financeiras da universidade estão próximas dos 10 bilhões de reais, dinheiro acumulado nos 2 primeiros anos da pandemia, em que as aulas foram remotas. Ou seja, nunca na sua história, a universidade dispôs de condições financeiras tão favoráveis.

Tanto é assim que no ano passado a reitoria deu R$217 milhões de reais para os hospitais que estão nas mãos de Fundações Privadas: os HCs de São Paulo e de Ribeirão Preto. Verba da USP doada para dois hospitais da Secretaria Estadual da Saúde, e NENHUM CENTAVO PARA REVITALIZAR O HU, hospital da própria USP, que está sendo deixado aos pedaços.

Agora a reitoria quer dar R$ 150 milhões/ano da verba salarial da USP para planos de saúde através de um auxílio saúde ao invés de contratar funcionários para reabrir o HU em toda sua capacidade.

Lembremos que a verba de R$ 20 milhões/ano conquistada pelos movimentos de trabalhadores da USP e da comunidade da região do Butantã permitiria contratar cerca de 400 trabalhadores de todas as áreas do HU e retomar o patamar de atendimento que tinha em 2013, aberto à comunidade USP e à população da região. Imaginem o que seria possível em relação a contratações e reformas no HU com R$150 milhões mais os R$217 milhões!

Mas como se pode ver, a burocracia universitária prefere gastar quase R$370 milhões em doações para hospitais que são geridos pelas Organizações Sociais dirigidas pelos mesmos burocratas, bem como para pagar esse “auxílio saúde” que só servirá para aumentar as fortunas de grupos de medicina privada, depois de iludir os funcionários da USP para que desistam de lutar pelo HU.

2) A reitoria levou o HU ao colapso e agora diz que a única solução é entregá-lo a uma Organização Social de Saúde (OSS)/Fundação Privada.

A reitoria e os gestores do HU repetem incansavelmente, buscando transformar em verdade a falácia de que a universidade não consegue financiar nem administrar o hospital e, por isso, a única saída possível seria entregar o hospital para uma das OSS/ Fundações.

Tais Fundações são dirigidas por professores das Faculdades de Medicina da USP, como a FFM de São Paulo que já administra o orçamento e a estrutura HC da capital, a Fundação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Faepa) que já administra os orçamentos e estruturas do HC de Ribeirão Preto e do HRAC de Bauru, ou ainda, a Fundação Zerbini, que administra o orçamento e toda a estrutura do INCOR.

Em resumo, o problema que levou o HU até a situação em que se encontra nunca foi falta de dinheiro, nem falta de condições da universidade administrar o hospital, pois os mesmos professores que dizem ser impossível administrá-lo dispõem-se a fazer isso através de suas fundações, que, na prática, não são mais do que empresas privadas!

Já conhecemos bem essa fórmula de desmontar os serviços públicos para justificar a privatização ou entrada de OSS. É escandaloso o conflito de interesses que leva esses professores da burocracia acadêmica a votarem na desvinculação do HRAC no CO (Conselho Universitário) para entregá-lo à Fundação na qual são dirigentes! Além disso, essa fundação receberá R$1 bilhão em 5 anos! Verba pública que será administrada pelos burocratas que dirigem a Faepa! Para saber mais sobre o tema, acesse nosso Boletim de Áudio #01/2023 e matéria da ADUSP