Carta denuncia descaso com as condições de saúde dos trabalhadores

Os funcionários da Prefeitura do Campus da Capital, reunidos no dia 20 de Julho de 2022, vimos manifestar o que segue:

Após assumir essa prefeitura , a Sra visitou pessoalmente  todas as suas seções e, na ocasião  da visita, perguntou a  vários de nós “o que teríamos ainda pra oferecer à universidade”, ou “porque a universidade deveria ainda nos manter”.

Ouvir tais perguntas hoje, quando muitos de nós que já entregamos à universidade três ou quatro décadas de nossas vidas, encontramo-nos já idosos e vários de nós adoecidos, foi como se nos tivessem perguntado se ainda seríamos úteis, ou se ainda teríamos algo que nos pudesse ser extraído. E isso nos sugere também a seguinte pergunta: o que a Sra Prefeita nos diria se já não tivéssemos a oferecer o tanto que a Sra consideraria suficiente? Que deveríamos ser descartados?

De fato, a política de saúde do trabalho adotada pelos sucessivos reitores e  que tem sido aprofundada na atual gestão ao tempo em que  nos trata como descartáveis, acaba, em última instância roubando o que nos resta de saúde e extraindo o que nos resta de nossas próprias vidas. 

Isso é o que tem se expressado no fato de que após mais de cinco anos sem que a USP assegurasse nosso direito aos exames periódicos de forma a estarmos cientes do nosso estado de saúde e do nexo causal entre ele e nossa condição de trabalho, temos sido chamados a “consultas” com os médicos do trabalho e, sem quaisquer exames completar temos sido declarados aptos para o trabalho, com base apenas na constatação de que nossos pulmões ainda respiram e nosso coração ainda pulsa. Isso porque, os médicos do SESMT estão proibindo de pedir os exames complementares necessários para fechar diagnósticos com um mínimo de seriedade, já que se trata de vidas humanas ou, para nós, de nossas vidas. O que nos tem causado grande estranheza e maior revolta.

Não podemos aceitar essa política irresponsável da gestão universitária, em especial da superintendência de saúde.

E, como a Senhora nos perguntou “o que tínhamos a oferecer, além das décadas de trabalho entregue na construção e manutenção da universidade, nós respondemos que apesar  da política de RH adotada por sucessivos reitores nos  atrapalharem muito, nunca deixamos de dar o melhor de nós.

Por isso, estamos convictos de termos a autoridade do dever cumprido,  para exigir  do nosso patrão, aqui representado pela Senhora, a garantia do nosso direito aos exames periódicos fundamentais para segurança de nossa saúde e nossas vidas como sempre foram feitos, ou seja , completos e no HU.   

Em tempo: quando marcamos essa reunião, para discutir o conteúdo dessa carta, não tínhamos a ideia de que a estariamos realizando em meio a dor e a revolta pela perda de um dos nossos companheiros que morreu trabalhando, e que, talvez, pudesse ainda estar vivo caso as administrações desta universidade atendesse nossos direitos (como exames periódicos) com a mesma presteza com que nos cobra os deveres.

Assina: Funcionários da Prefeitura do Campus da Capital, reunidos em 20 de Julho de 2022.