Nós, trabalhadoras da USP, campus de Ribeirão Preto, manifestamos nosso repúdio contra a determinação da Superintendência de Saúde (SAU/USP) em proibir a realização de mamografia para pacientes de 40 a 50 anos, sendo que a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, a Sociedade Brasileira de Mastologia, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e o Colégio Brasileiro de Radiologia recomendam o exame a partir dos 40 anos, anualmente. Além disso, proibiu-se a realização de outros exames para rastreamento de câncer de mama.

Estudos apontam que cerca de um terço dos casos de câncer de mama afeta mulheres antes dos 50 anos.

Para ratificar essas informações, temos como base, estudos e pesquisas que apontam que maior parte dos diagnósticos de câncer de mama são feitos através de exames preventivos com prevalência em mulheres com idade entre 40 e 50 anos. A realização de um exame preventivo tem o caráter de preservar a saúde das mulheres e não pode ser tratado sem a devida importância e seriedade que o tema exige pelo Superintendente da SAU. Por isso, apelamos tanto para as mulheres que estão em cargos de comando, quanto para todas as trabalhadoras da USP que nos apoiem nesta situação de negligência à saúde de todas nós servidoras.

A SAU pretende seguir o protocolo do MS, sendo que o SUS deve assegurar, por lei, a realização de mamografia a todas as mulheres a partir de 40 anos de idade, tanto que o rastreamento de câncer de mama na rede pública de Ribeirão Preto começa aos 40 anos, idade crítica para o surgimento deste tipo de câncer em mulheres e, portanto, mais que necessária sua prevenção.

Não bastasse restringir a faixa etária para autorização de mamografia pelas UBAS (para mulheres de 50 a 74 anos), a SAU ainda limitou a sua frequência, que deverá ser a cada 2 anos, portanto não serão mais autorizadas mamografias anuais!

Durante as reuniões para a elaboração deste documento tivemos acesso a uma denúncia gravíssima, que tem estreita ligação com o descaso e desrespeito a todas as mulheres do campus que utilizam as prestadoras de serviço ligadas à USP, nos campi do interior. A denúncia se refere a uma servidora que descobriu, após realizar os exames preventivos, um câncer de mama em 2019 e até março deste ano foi amparada de forma humanizada pela UBAS e serviços conveniados para a liberação das consultas pré-cirúrgicas, a cirurgia em si e o tratamento posterior a retirada do câncer. Agora a liberação de consultas e a continuidade do tratamento oncológico que antes era ofertado pelo prestador de serviços e autorizado pela SAU estão sendo negados. O direito ao tratamento foi abruptamente cerceado sem uma justificativa plausível. Esta servidora, já em sofrimento quanto as incertezas e tabus em relação à doença, teve negado o direito a receber a medicação até então fornecida. Para piorar o quadro, ao realizar o tratamento de “quimioterapia oral” teve que recorrer a doação do medicamento após a negativa e como se não bastasse a insegurança que a situação lhe causou, teve negado a acesso a guias de consulta após ultrapassar as 8 (oito) liberadas pela superintendência de saúde. A servidora solicitou outras guias porque como o tratamento oral teve efeitos colaterais, ela necessitou se consultar com outros especialistas.

A USP, uma das melhores da América Latina, com diversos equipamentos de saúde sob sua orientação (HU, HC-SP e HC-RP ) que são referências nacional e internacional em diversos tratamentos, através de pesquisa de ponta na área da saúde, que são de extrema relevância para a sociedade, se furta de forma insensível à sua própria comunidade, às trabalhadoras que, há anos, se dedicam a esta instituição e tem o básico negado e vilipendiado, fechando os olhos para situações que exigem um mínimo de respeito e tratamento digno e que em outras administrações já foi tratado de forma mais humana.

Cobramos, com a máxima urgência, a revisão dos protocolos dos exames preventivos de câncer de mama em mulheres entre 40 a 50 anos e também a revisão da limitação do número de guias para tratamentos específicos e imprescindíveis para que a saúde de todas e todos os servidores seja preservada e valorizada com o respeito que esses trabalhadores merecem.

Ressaltamos que o sofrimento, a insegurança e a angústia frente a essa política misógina por parte da SAU, que deve ter por finalidade “cortar despesas”, gera, inevitavelmente outros problemas de ordem psíquica e emocional nos servidores. E que se não for reparada o quanto antes, poderá culminar em afastamentos ou a até morte das trabalhadoras pela ingerência e negligência da USP.

Será que teremos de aguardar até o mês de outubro, conhecido mundialmente como o mês da conscientização para o controle do câncer de mama (Outubro Rosa)? Ou esperar até o dia 27 de novembro, que é o dia nacional de combate ao câncer de mama instituído pela Lei nº 12.116/2009?

Estamos certas da compreensão e solidariedade de todas, pois juntas somos mais fortes!

Assina este documento o grupo de mulheres do SINTUSP de Ribeirão Preto.