Na última sexta, dia 17, foi publicado um texto escrito pelas entidades Adusp, Sintusp e DCE com um posicionamento contrário ao retorno presencial neste momento. O link para o texto no site da Folha de São Paulo é o seguinte: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/09/usp-opta-por-retorno-perigoso.shtml

Reproduzimos o texto completo abaixo:

Michele Schutz

Presidente da Adusp

Giuliana Moraes

Coordenadora do DCE

Reinaldo Santos

Diretor do Sintusp

USP opta por retorno perigoso

A reitoria da USP está impondo aos servidores e estudantes o retorno presencial das atividades na universidade. O plano de retorno, que antes só colocava obrigatoriedade para quem estivesse com a vacinação completa, agora autoriza os diretores das faculdades a convocar estudantes, funcionários, docentes e estagiários vacinados apenas com a primeira dose. E toda a comunidade universitária só soube dos detalhes desse plano de retorno pela imprensa, antes mesmo de qualquer discussão interna.

Além da falta de diálogo para a elaboração do plano de retorno, a USP desconsidera fatores essenciais para garantir a segurança do retorno presencial. Nos comunicados sequer há menção aos protocolos caso haja contaminação de pessoas que tiverem retornado ao trabalho e aulas presenciais. A ausência de infraestrutura para garantir o retorno seguro em muitas faculdades e o uso do transporte público, que inevitavelmente gera aglomeração, deveriam estar no centro da preocupação para a elaboração do plano de retorno.

Entendemos que a situação geral da pandemia não autoriza abrir mão do isolamento. A concepção de que a vacina seria um passaporte individual de imunização é falsa; afinal, pessoas vacinadas ainda podem adoecer e transmitir o vírus. Por isso, é fundamental a articulação entre política de imunização coletiva e medidas de isolamento social, até que tenhamos um controle da pandemia.

Temos ainda um número significativo de óbitos e novos casos todos os dias. Segundo projeções feitas por pesquisadores da USP e da Unesp, a flexibilização das medidas de restrição poderá contribuir para um surto da variante delta do Sars-Cov-2 neste mês de setembro. Parece-nos que a decisão da USP não leva em consideração a própria produção científica da universidade para se adequar às diretrizes do governo do estado de São Paulo.

A reitoria faz sempre questão de lembrar que a USP não parou durante a pandemia. Só que a manutenção das atividades só foi possível graças ao esforço de toda a comunidade, com grande custo físico e emocional. A questão central não é sobre ter vontade de retornar ao trabalho presencial. Nós, inclusive, entendemos que o ensino remoto é uma ferramenta completamente inviável para o pós-pandemia por trazer prejuízos de várias ordens: desde a convivência universitária até os processos de ensino e de aprendizagem, descaracterizando o papel social da USP. No entanto, o retorno só deve ocorrer de forma segura, quando as condições da pandemia permitirem.

A pandemia mostrou a importância da ciência no combate ao obscurantismo e reforçou o papel fundamental das universidades públicas como polos de produção científica. Não cabe à maior universidade do país desafiar a ciência e colocar a vida da sua comunidade em risco.