Foi anunciado no CO o investimento de R$ 281 milhões na expansão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP), com a aquisição de um terreno de quase 800 mil m² para a construção de uma nova unidade de emergência com 400 leitos. Essa notícia deveria ser comemorada não fosse por um detalhe: o investimento milionário está a serviço dos interesses de fundações como a FAEPA, uma fundação privada gerida por setores da burocracia universitária, com interesses privatistas.

Quando fazemos a comparação com a situação do Hospital Universitário, no campus da capital fica escancara que a preocupação nunca foi com a saúde.

O investimento legítimo no HCFMRP demonstra que há dinheiro. E muito dinheiro! O caixa da USP é de quase R$ 8 bilhões, o suficiente para reformar e garantir o atendimento a pleno vapor de todos os aparelhos de saúde da USP. No entanto, o Hospital Universitário (HU) enfrenta um processo contínuo de sucateamento, com mais de um terço dos leitos fechados, superlotação crônica e restrição de atendimentos, afetando diretamente a população de parte da Zona Oeste de São Paulo.

Além dos leitos fechado, há uma enorme sobrecarga de trabalho que tem levado os trabalhadores do HU à exaustão e ao adoecimento físico e mental.

O trabalho da higienização e limpeza do hospital é terceirizado. Isso significa que quantidade de funcionários para garantir a segurança sanitária do hospital está submetida aos interesses da empresa terceirizada, ou seja, ao quanto de lucro ela pode obter precarizando as condições de trabalho ao limite. Isso inclui o fornecimento de EPIs e equipamentos de limpeza de baixa qualidade e em quantidade limitada.

A reitoria não contrata funcionários efetivos, médicos, corpo de enfermagem e administrativo, suficientes para o Hospital para garantir o atendimento pleno e sem sobrecarga de trabalho. Há contratos temporários de médicos (como se as demandas por tratamento de saúde fossem temporárias) e faltam diversas especialidades. Além de problemas de infraestrutura importantes.

Apesar do discurso oficial de fortalecimento do ensino, pesquisa e extensão, a expansão do HCFMRP ocorre em um modelo que transfere a gestão do novo hospital para a Secretaria Estadual de Saúde, abrindo caminho para a atuação de fundações privadas como a FAEPA (Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do HCFMRP). A FAEPA, já denunciada por má gestão de recursos públicos e tratamento desigual entre pacientes do SUS e de convênios, utiliza a estrutura e recursos do hospital público para beneficiar atendimentos privados, inclusive com diferenciação de insumos, infraestrutura e agilidade no atendimento (https://www.mpc.sp.gov.br/procuradoria-pede-para-que-denuncia-de-tratamento-desigual-pacientes-do-sus-pelo-hospital-das).Essa lógica aprofunda a privatização interna da universidade, onde fundações movimentam cifras superiores ao orçamento das próprias unidades acadêmicas e operam com pouca transparência e fiscalização.

Como já havia afirmado a revista da Adusp, há quase 15 anos “A proliferação das fundações de direito privado no interior da USP assume tal proporção atualmente que se pode afirmar, sem risco de erro, que a universidade está parcialmente privatizada.” Agora, essa afirmação não apenas é atual, mas o que diz respeito a privatização da USP avançou e muito.

Enquanto milhões são investidos em Ribeirão Preto, o HU da USP, sofre com falta de recursos, redução drástica de leitos (de 230 para cerca de 130) e queda de atendimentos mensais (de 17 mil para menos de 5 mil). O hospital opera com sobrecarga de até 300% da capacidade, pacientes são atendidos em cadeiras por falta de estrutura, e cirurgias eletivas foram suspensas por tempo indeterminado. O próprio superintendente do HU reconhece em ofício (OFÍCIO HU “S” Nº 160/2024) que a qualidade do atendimento caiu drasticamente, resultado direto de políticas de “responsabilidade fiscal” e interrupção de contratações, iniciadas pela gestão reitoral anterior e que, diga-se de passagem, foram mantidas pela atual gestão da reitoria.

A política da Reitoria da USP revela uma lógica perversa de expansão seletiva, priorizando investimentos em unidades que podem ser entregues imediatamente à gestão de fundações privadas, enquanto o HU e os demais aparelhos de saúde são sucateados, não sendo descartada, inclusive a desvinculação e posterior entrega a entes de interesses privados ou privatistas.

Tais medidas não fortalecem nem o SUS nem a universidade pública. Ao contrário, transfere dinheiro e patrimônios públicos para entes privados e fortalece a ideia de que saúde é mercadoria.

Lutar em defesa do SUS é defender o HU na USP, funcionando em toda sua capacidade, com contratações de funcionários efetivos, reversão da terceirização e efetivação das trabalhadoras terceirizadas e dos contratos temporários sem a necessidade de concurso, pois já demonstraram na prática a aptidão para o trabalho.