No último mês chegou ao nosso conhecimento um abaixo-assinado impulsionado pela atual gestão do AMORCRUSP, a gestão Avante, em defesa do fornecimento de três refeições por dia, inclusive aos finais de semana, aos estudantes moradores do CRUSP, e que esse fornecimento fosse feito pelo restaurante central, o que significa manter o restaurante aberto aos finais de semana e feriado.
Sabemos que a USP, embora tenha aprovado as cotas raciais e tenha sido criada pela atual gestão da reitoria, uma Pró-reitoria de Inclusão e Pertencimento, a PRIP, não está preocupada com a alimentação ou a qualidade de vida dos estudantes pobres, negros, mães estudantes. Ao contrário, durante toda a pandemia e no ano de 2023 faltou água, internet, fornecimento de comida aos estudantes do CRUSP, além das condições da moradia estudantil estarem ultra precarizada. A única preocupação dessa gestão da reitoria e da PRIP foi desmentir a falta de água recorrente nos blocos da moradia estudantil.
Colocada essa questão, nos chamou a atenção que neste abaixo-assinado não há uma denúncia explícita à reitoria e à PRIP. Mas há uma afirmação no abaixo-assinado que acreditamos que aqueles que o impulsionaram devem desconhecer. O texto afirma que o bandejão da física foi fechado e os trabalhadores se incorporaram ao conjunto dos trabalhadores do bandejão central, o que, conclui, significa que há trabalhadores e condições suficientes para manter o restaurante aberto para o fornecimento das três refeições necessárias. Consideramos legítima e elementar a demanda por alimentação e achamos absurdo que a reitoria se mantenha indiferente a essa questão.
Mas, é preciso esclarecer: o atual corpo de funcionários no bandejão central não é o responsável por não haver as três refeições aos finais de semanas e feriados. Os funcionários que hoje estão trabalhando no restaurante central não têm condições de aumentar a sua carga de trabalho, pois hoje já estão sobrecarregados e doentes e a responsabilidade dessa situação também é da reitoria. As contratações estão congeladas há dez anos. Mais da metade dos trabalhadores possuem doenças ocupacionais que exigem restrições de movimento por causa das condições de trabalho. A reitoria sequer quis fornecer testes de COVID a esses trabalhadores que trabalham diretamente com os estudantes servindo a comida. Foi preciso mais de 40 dias de paralisação para que esses trabalhadores fossem ouvidos.
Há anos batalhamos por contratações de funcionários efetivos para os restaurantes para garantir o fornecimento de refeições de qualidade aos estudantes. No entanto, ao invés disso, funções como a de auxiliar de cozinha e cozinheiro foram extintas, o que significa que não há interesse da reitoria em contratar novos funcionários para suprir a demanda por refeições. Além disso, avançou na terceirização dos restaurantes universitários, privatizando um serviço público. Essa lógica privatista visa o lucro e não a garantia de condições de trabalho e estudo. Os trabalhadores terceirizados ganham menores salários, frequentemente sofrem com atrasos e perda de benefícios, além da sobrecarga. São demitidos se adoecem, mesmo que esse adoecimento seja por causa das condições de trabalho. Eles chegaramm a ser proibidos, inclusive, de comer a comida que eles próprios ajudam a preparar e servir. As empresas terceirizadas, lucram com o dinheiro público às custas da precarização. Essa lógica privatista não se limita ao bandejão, avança nas relações de estudo e pesquisa. Por isso, também defendemos a efetivação dos trabalhadores terceirizados sem a necessidade de concurso.
Por isso, queremos deixar claro: o conteúdo deste abaixo-assinado é um ataque aos trabalhadores e fazemos um chamado aos coletivos de estudantes e entidades estudantis que o estão impulsionando, que provavelmente desconhecem essa situação aqui exposta, que revejam essa medida. Vamos nos unir para defender a condição de permanência dos estudantes na USP, e para isso é necessário exigir a reversão da extinção dos cargos das áreas operacionais como cozinheiro e auxiliar de cozinha, contratações de trabalhadores efetivos para o bandejão, para o hospital universitário e para toda a USP e a efetivação dos trabalhadores terceirizados sem a necessidade de concurso. Para garantir três refeições por dia, as demais demandas de permanência estudantil é preciso lutar de maneira unificada também por condições de trabalhos e contra as políticas nefastas dessa reitoria e da PRIP.
Chamamos as entidades e coletivos que impulsionam esse abaixo-assinado, e também todos os estudantes e trabalhadores interessados na construção dessa luta unificada, para uma reunião na sede do SINTUSP, quarta-feira, 15/02, às 17h, para debatermos em comum as medidas pra fortalecer nossa luta conjunta!