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No dia 28 de outubro, às vésperas do mês da Consciência Negra, Cláudio Castro, governador do RJ, conhecida figura da extrema direita, protagonizou um verdadeiro banho de sangue com a maior ação integrada das forças repressivas daquele estado nos últimos 15 anos. A chamada Operação Contenção mobilizou mais de 2,5 mil policiais civis e militares nos complexos do Alemão e da Penha, deixando mais de 130 pessoas mortas, se tornando uma das maiores chacinas da história do país. Os relatos denunciam as execuções, com corpos com mãos amarradas, decapitados e com claros sinais de tortura, além de comunidades inteiras aterrorizadas revelam uma política de extermínio em nome de uma suposta “guerra às drogas”, cujo alvo central é a juventude negra e pobre das periferias.

Essa lógica não é um fenômeno isolado do Rio de Janeiro. Em São Paulo, convivemos há décadas com práticas semelhantes: operações policiais violentas, execuções extrajudiciais, criminalização da pobreza e políticas públicas que vem se apoiando no aparato da polícia militar do Estado para impor condições precárias e de mais repressão à sociedade. Em um país em que legalmente não existe pena de morte a polícia cria o seu próprio tribunal de rua, acusando, julgando e executando as pessoas, na sua maioria jovens negros. Da Rota às incursões nas periferias da capital e da Grande São Paulo, a violência policial é parte de uma política estrutural e racista que marca o Estado brasileiro em que a polícia mata e o judiciário enterra impunemente. Basta lembrar que uma das maiores chacinas ocorridas até esta operação no Rio foi o Massacre do Carandiru, realizado num presídio na capital paulista. Esses massacres vêm sendo aprofundados pelos governos de extrema-direita, como o de Tarcísio de Freitas que no ano passado, com a Operação Escudo e Verão, deixou um rastro de 84 mortes no litoral, além de chacinas por todo o estado, mas também por governos petistas como na Bahia, um estado governado por Jerônimo Rodrigues do PT, onde vemos uma das polícias mais letais e racistas do país.

Na própria Universidade de São Paulo, sabemos que o papel da polícia não é de assegurar a proteção da comunidade acadêmica, mas para reprimir e evitar qualquer mobilização que coloque em risco os planos de precarização de ensino e de privatização de Tarcísio e da Reitoria, assim como manter a universidade “intocada” por parte da população que é excluída pelo vestibular. Em grafites da capital lemos uma frase simbólica da realidade brasileira: “A burguesia cria a miséria, a polícia mata os miseráveis”. É chamativa a frase porque sabemos que o que há por trás da repressão policial e o suposto combate ao tráfico de drogas é a falta completa de condições dignas de vida e de trabalho com desemprego, trabalho precário, falta de saneamento básico, saúde, educação, o que está na raiz da violência urbana. Nada disso os governos se propõem a solucionar e só oferecem mais violência, mortes e repressão. Não nos enganemos com a demagogia que quer naturalizar cenas de corpos enfileirados no chão que são parte do plano dos governos para transformar favelas e bairros periféricos em campos de guerra.

Nos solidarizamos profundamente com as famílias das vítimas da chacina no Rio de Janeiro e com todas as comunidades atingidas pela violência policial em São Paulo e em todo o país. Cada vida perdida é responsabilidade direta de governos que escolhem investir em operações letais em vez de garantir saúde, educação, moradia, cultura e oportunidades para a juventude. Defendemos a necessidade urgente de organização e luta unificada e exigimos que as centrais sindicais e o conjunto dos sindicatos construam mobilizações massivas contra a violência de Estado e pela responsabilização dos governos envolvidos nas chacinas.

Conselho Diretor de Base do Sintusp – 07 de novembro de 2025.