Trabalhadoras terceirizadas da limpeza da FOUSP
Nós somos as mulheres que chegam aqui antes do sol raiar e saem depois de todo mundo, que garantimos que a Faculdade de Odontologia acorde limpa, segura e pronta para funcionar — e mesmo assim muita gente nem sabe nossos nomes. Somos vistas todos os dias, mas quase nunca realmente enxergadas.
Somos nós que limpamos as clínicas, as cuspideiras, as bancadas, o aerossol grudado depois das brocas, o sangue que respinga, a saliva que seca, o lixo contaminado que ninguém quer chegar perto. Somos nós que deixamos a FOUSP respirando higiene para que todos os outros possam trabalhar com segurança.
Nós trabalhamos em saúde, e isso significa risco. Mas até hoje tentam fazer parecer que o que
fazemos é uma “simples limpeza”. Não é. Isso cansa o corpo e pesa na vida. Mas o que mais nos dói é
quando nos tratam com desrespeito. Justamente por isso que o ocorrido da sexta-feira passada doeu tanto.
A SEXTA-FEIRA DO SILÊNCIO
No dia 29 de novembro, esperamos receber a primeira parcela do 13º, como prevê a lei. Muitas já
tinham contas para pagar, remédio para comprar, comida pra garantir, compromissos planejados. Algumasqueriam aproveitar descontos do mês, outras só queriam um respiro.
Mas quando fomos olhar a conta…
Nada. Nenhum centavo.
E pior: nenhum aviso. Nenhuma explicação. Nada.
Fomos informadas apenas depois, pelas encarregadas, que o SIEMACO teria assinado um acordo em
2024 permitindo à empresa pagar só em 10/12 — um documento que ninguém nos consultou, ninguém
explicou, ninguém mostrou.
Voltamos para casa com a sensação de que, para a empresa, nós não merecíamos sequer informação.
Foi humilhante, dolorido e revoltante.
A SEGUNDA-FEIRA QUE MUDOU A HISTÓRIA
No final de semana procuramos o SINTUSP, que ficou do nosso lado desde o amanhecer de segunda.
Preparamos juntas um texto simples contando a verdade. Distribuímos pela FOUSP. Colamos nos banheiros.
Entregamos nos corredores. Falamos em todos os cantos porque estavam tentando nos calar.
Pela primeira vez em muito tempo, não engolimos o desrespeito sozinhas. E a resposta veio.
● A FOUSP notificou a empresa e classificou sua atitude como “indecente”.
● A Reitoria confirmou: não existe aditivo para 2025 referente ao tema no Acordo Coletivo, MAS A LUTA CONTINUA: QUEREMOS NOSSO PPP CORRETO JÁ!
O PPP é o documento que descreve de verdade o que fazemos e quais riscos enfrentamos. Ele serve
para garantir aposentadoria especial – que é o direito de se aposentar com menos tempo de serviço,
quando o trabalho expõe riscos à saúde.
Por isso não queremos só o 13º na conta. Queremos que parem de fingir que nosso trabalho é simples,
leve e “comum”. Porque não é.
Trabalhamos na área de saúde. Lidamos com risco biológico. Mas a empresa está tentando empurrar
um PPP que não descreve a limpeza de resíduos biológicos, o contato com sangue e saliva; a higienização de clínicas; a exposição diária à aerosol odontológico; produtos químicos fortes; lixo contaminado; sequer os risco ergonômico e respiratório. Ou seja: a empresa apagou nosso trabalho real.
E se nosso trabalho não aparece, nosso direito à aposentadoria antecipada por trabalhar sob risco (aposentadoria especial) desaparece junto. Mas por que tentam tirar isso de nós?
Porque é caro reconhecer nosso trabalho! É caro admitir que sem a gente a Odonto não funciona.
É caro ter que dar o mesmo direito para quem limpa que para aquele que manda.
Por isso estamos exigindo:
➤ que a empresa refaça o PPP corretamente;
➤ que a FOUSP informe oficialmente quais tarefas realizamos;
➤ que a comunidade apoie essa luta — porque o cuidado que entregamos retorna em
forma de saúde e segurança para vocês
A FOUSP ouviu nossa denúncia. Agora queremos que aja com a mesma firmeza que agiu no caso do
13º. A verdade precisa constar no papel: o que fazemos é saúde pública. É prevenção de infecção. É criar
condições para que as clínicas funcionem. É garantir que ninguém — estudante, professor, paciente — corra risco desnecessário.
Quando somos invisibilizadas, é a FOUSP inteira que perde. Quando ganhamos direito, todas e todos
ganhamos..
E MAIS: NÃO VAMOS ACEITAR METADE DE DIREITOS
É hora de falar o óbvio:
A terceirização só existe pra pagar menos e exigir mais.
Nós fazemos trabalho igual ao dos funcionários efetivos. Temos jornada igual. Temos responsabilidade
igual. Temos risco igual…
Mas recebemos salário menor. Sem estabilidade. Sem plano de carreira. Sem o mesmo respeito…
E isso não é acaso. É um projeto. E é por isso que nossa luta não termina no 13º, nem no PPP:
Nossa luta é por direitos iguais
➢ Por efetivação.
➢ Por salário igual para trabalho igual.
➢ Por uma FOUSP onde ninguém seja visto ou tratado como trabalhadora de segunda categoria.
Nós mostramos do que somos capazes quando levantamos a cabeça juntas. E vamos continuar
mostrando. Porque a FOUSP só existe limpa, segura e funcionando…PORQUE NÓS EXISTIMOS!!!
Obrigada a quem nos ouviu.
Obrigada a quem nos apoiou.
Obrigada a quem está junto.
Trabalhadoras Terceirizadas da Limpeza da FOUSP