Finalmente voltamos a navegar. Agora estamos começando a etapa decisiva da nossa missão rumo a Gaza.

Foram vários os problemas que tivemos que superar na primeira etapa: a tempestade de grandes proporções na saída de Barcelona avariou alguns barcos, principalmente os menores; alguns não puderam ser recuperados. Em Tunis (Tunísia), tivemos o bombardeio por drones em dois barcos, que causou incêndio, avariando bastante o primeiro (que acabou sendo recuperado). As autoridades portuárias criaram um longo problema burocrático com o embarque de duas marinheiras do nosso barco, o que levou muitas horas para ser resolvido.

No porto de Bizerte, não havia combustível para abastecer os barcos, o que gerou um novo atraso. Em Bizerte houve remanejamento dos participantes entre os barcos e também o corte inevitável de alguns, em função da perda dos barcos avariados. A polícia portuária fez fotos e colheu as digitais de todos os participantes e, além de revistar os barcos, inspecionou as bagagens individuais de todos os tripulantes, o que gerou mais atraso.

Tudo isto fez com que o nosso plano de chegar à área considerada vermelha no dia 13 de setembro fosse totalmente inviabilizado. Estamos saindo da Tunísia no dia 14 de setembro, com 12 dias de navegação pela frente até a zona vermelha.

Partimos ao pôr do sol com alguns companheiros no cais que furaram o bloqueio da polícia portuária, gritando palavras de ordem de apoio à Palestina, e, para completar a emoção, saímos com vários golfinhos “escoltando” o nosso barco.

Vamos a Gaza com um compromisso assumido de forma muito discutida e consciente: não pararemos quando os sionistas, de seus navios, gritarem “Stop!”. Só responderemos se nos atacarem ou invadirem nossos barcos, porque nosso objetivo é chegar a Gaza com as nossas — não muitas — toneladas de alimentos e medicamentos e abrir um corredor marítimo para que muito mais ajuda humanitária necessária chegue a este povo, que sofre um genocídio cruel, com bombas e com a fome usada como arma de guerra, matando crianças, mulheres e homens diariamente diante dos nossos olhos.

Jogaremos todos os nossos celulares no mar quando formos atacados; não navegamos levando dinheiro nem cartões bancários porque eles roubam e sacam o dinheiro de nossas contas, como fizeram com os companheiros das missões anteriores, que foram presos e levados a Israel. Contamos com a luta que nunca faltou dos companheiros dos 44 países aqui representados.

Magno de Carvalho
– Membro da Executiva da CSP-CONLUTAS
– SINTUSP