A USP adoece seus trabalhadores e precariza seus estagiários

Nas últimas décadas, a Universidade de São Paulo tem passado por um processo contínuo de desmonte do seu quadro funcional. Sem reposição adequada de servidores e com o crescimento acelerado de cursos, atividades e serviços, a comunidade universitária enfrenta um cenário de hiperexploração, adoecimento e precarização das relações de trabalho.

Enquanto isso, a Reitoria terceiriza funções essenciais e transforma estudantes em mão de obra barata, distorcendo o sentido do estágio e das bolsas de permanência estudantil.

Os números não mentem: menos servidores, mais demanda

Desde 1989, o número de estudantes de graduação praticamente dobrou, e o de extensão triplicou. No entanto, os dados da própria USP mostram uma queda alarmante no número de servidores:

  • Graduação: de 31.897 (1989) para 59.216 (2023)
  • Pós-graduação: de 12.914 para 29.441
  • Cursos de extensão: de 70.963 para 210.334
  • Docentes: de 5.626 para 5.182
  • Funcionários técnico-administrativos: de 17.735 para 12.514

Ou seja, menos gente para dar conta de muito mais trabalho. Isso gera enorme sobrecarga, avanço da terceirização e a utilização do estágio, que é um mecanismo de aprendizagem para transformar os estagiários em trabalhadores precarizados. Além disso, a sobrecarga generalizada reflete nos altos índices de burnout, ansiedade e outras doenças ocupacionais.

Estagiário precarizado: o novo trabalhador invisível da USP

A falta de servidores tem sido “compensada” por contratações terceirizadas e uso abusivo de estagiários, que passam a desempenhar funções técnicas e administrativas sem vínculo empregatício, sem direitos e sem formação adequada.

Muitos desses estudantes trabalham sob forte pressão, sem acompanhamento pedagógico, com cargas horárias exaustivas enfrentando adoecimento físico e mental, além de assédio moral e até mesmo assédio sexual. Sem organização sindical ou representação estudantil específica, estão isolados – e sofrendo diversos abusos.

Funcionários técnicos de laboratório: A USP enfrenta um problema crônico de quantidade insuficiente de técnicos de laboratório nos institutos de pesquisa, o que resulta diretamente em atrasos na execução de experimentos, desperdício de insumos e subutilização de equipamentos de alto custo, e principalmente, alta sobrecarga e desvio de função dos técnicos já existentes, e até mesmo compromete normas de segurança: A falta desses profissionais diversas vezes resulta na delegação de tarefas a alunos e/ou estagiários que podem não ter a certificação necessária para poder executá-las, elevando expressivamente riscos de acidentes.

Lembremos do estudante Filipe Varea Leme, um estagiário que deveria estar aprendendo e que morreu dentro da universidade por causa dos desvios de função causados pela política de precarização da USP.

O caso do Bandejão Central: precarização com humilhação

Na última semana, a Divisão de Alimentação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) orientou que estagiários da USP fossem proibidos de acessar o Restaurante Universitário pela entrada dos funcionários. Os estagiários e bolsistas PROIAD (que trabalham principalmente na Escola de Aplicação, Museus e Centros de Língua) precisam cumprir jornadas de até 6 horas diárias, sem direito a pausa para descanso e alimentação de mais de 15 minutos, sendo que ainda devem garantir suas presenças nas aulas junto com a realização de todas as atividades acadêmicas de seus cursos. Com essa medida, a PRIP passou a obrigar que eles enfrentem filas de mais de uma hora para comer – o que, na prática, retira a possibilidade de que muitos consigam sequer almoçar.

Sem vale-alimentação ou auxílio-refeição, o RU é sua única opção. A medida revela o grau de desumanização: além de explorados, esses jovens trabalhadores são humilhados.

É hora de reagir: por uma política para os estagiários na USP

É urgente abrir o debate sobre a situação dos estagiários e exigir uma política institucional que respeite seus direitos, garanta dignidade e que não trate estagiários como funcionários. Há relatos de cobrança de horas de pontes e recesso, e banco de horas informal, um absurdo!

Propostas de ação imediata:

A partir de uma reunião realizada com estagiários e entidades estudantis, o Sintusp convida para uma plenária conjunta dos três setores com DCE, Adusp.

Mobilização dos representantes em Congregações e CDB para denunciar a situação nas unidades, e passar a assumir a defesa dos estagiários.

Estudantes, funcionários e docentes: é hora de agir juntos!

Pela dignidade do trabalho na universidade!