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IV Encontro de Trabalhadoras e Trabalhadores Negros da USP reúne dezenas de lutadores e reafirma importância do combate ao racismo dentro e fora da USP

Na última sexta-feira, dia 29/12, ocorreu na sede do Sintusp o IV Encontro de Trabalhadoras e Trabalhadores Negros da USP. Depois do café da manhã, com a participação de dezenas de trabalhadoras e trabalhadores aconteceu uma importante mesa debate com o tema “Racismo estrutural e seus reflexos na sociedade e no cotidiano” que contou com a participação de Maria Cristina Quirino (mãe de Denys Henrique, um dos jovens mortos no massacre em Paraisópolis em 2019 e integrante do movimento Os 9 que perdemos; Letícia Parks (pós-graduanda da USP, organizadora dos livros Mulheres Negras e Marxismo, A Revolução e o Negro e coordenadora do Instituto Casa Marx); Ana Cláudia Silva (psicóloga clínica, especialista em terapia cognitivo-comportamental e coordenadora do projeto Deseclipsando) e foi coordenada por Janeide S. Silva  e Marcello Pablito da Coordenação da Secretaria de Negras e Negros e Combate ao Racismo. No debate, Maria Cristina, ressaltou os passos difíceis da luta por justiça e divulgou os eventos de 5 anos da luta por justiça pelos 9 que perdemos no baile da Dz7 em Paraisópolis. Letícia Parks, Coordenadora do Instituto Casa Marx, apresentou a história da escravidão e suas práticas de violências contra mulheres e crianças, assim como destacou a continuidade de tais violências  e sua expressão no Estado Capitalista. Neste contexto foi explicitado o papel da burguesia  como herdeira da escravização negra, e a classe trabalhadora, herdeira da luta por justiça, liberdade e superação. Ana Cláudia Silva mostrou os efeitos do racismo sobre a classe trabalhadora e a população das periferias desde a infância, como o racismo permeia a política de contratação das empresas e como a psicologia pode estar a serviço da recuperação de subjetividades para a luta.

Depois da mesa, como parte da programação do IV Encontro de Trabalhadoras e Trabalhadores Negros da USP foi servido um delicioso almoço africano preparado por Janete S. Silva e Janeide S. Silva, ambas Coordenadoras da Secretaria de Negras e Negros do SINTUSP. O almoço contou com a participação de dezenas de trabalhadores, estudantes e professores da USP. A realização deatividades culinárias africana  é uma das iniciativas que vem sendo promovidas pela Secretaria de Negras e Negros do Sintusp para difundir a cultura dos países africanos e o reconhecmento de padrão brasileiros herdeiros desta Negritude. Ao final da tarde, no IV Encontro, aconteceu a  deliberação de propostas políticas fundamentais para enfrentar o racismo e o capitalismo dentro e fora da USP, direcionando a luta para a independência da classe trabalhadora no enfrentamento da extrema direita e todos seus ataques a categoria, principal e especialmente as populações negras, imigrantes e aos povos originários. Por fim, o IV Encontro terminou celebrando a resistência Negra com um Baile Black ressaltando a beleza e alegria da  cultura que se espalhou nas periferias pelo país.

Veja as resoluções aprovadas no IV Encontro de Trabalhadoras e Trabalhadores da USP:

Racismo estrutural e seus reflexos na sociedade e no cotidiano

O racismo é uma forma de opressão inseparável do capitalismo, que tem efeitos perversos sobre a população negra, dividindo a classe trabalhadora e submetendo as negras e negros aos piores postos de trabalho, recebendo menores salários, sendo os alvos prioritários da violência policial e sofrendo cotidianamente diversas formas de inferiorização. O Brasil é o maior país negro fora do continente africano, onde ganhou terreno a chamada “democracia racial” que reivindica uma suposta igualdade de condições entre negros e brancos, tratando o racismo como se fosse meramente um problema de comportamento individual, assim e eximindo a classe dominante, o Estado e as instituições da sua responsabilidade na perpetuação deste. Os postos de trabalho mais precarizados são ocupados por uma maioria de negras e negros. Na USP vemos se expressar de distintas formas o racismo profundamente enraizado na sociedade e, por essas e outras razões, é fundamental organizar uma ampla e profunda luta contra o racismo dentro e fora da USP. Essa luta precisa ser assumida com toda força pelo conjunto da classe trabalhadora, por seus sindicatos e organizações, enfrentando a classe dominante através da mobilização independente.

1)  É fundamental que o nosso sindicato fortaleça a luta contra o racismo, todas as formas de opressão, contra a exploração capitalista chamando o conjunto da nossa categoria a tomar para si as reivindicações do povo negro;

2)  No Sindicato é muito importante fortalecer as secretarias que impulsionam a luta contra as opressões como as secretarias de Negras e Negros, de Mulheres e LGBTQIA+, assim como espaços de organização e luta dos setores oprimidos para que a luta seja ampliada;

3)  Batalhamos por organizar os setores oprimidos para lutar junto à classe trabalhadora, com independência política em relação a todos os governos e patrões, e a suas instituições, como o Judiciário;

4) Rechaçamos as tentativas de institucionalizar e conter a organização, as reivindicações e a luta do povo negro por parte do governo de frente ampla de Lula-Alckmin;

5)  Precisamos de um plano de luta para enfrentar a extrema direita racista, representada em SP pelo governo Tarcísio, com a força da nossa mobilização independente. Abaixo as reformas, as privatizações, o Arcabouço Fiscal e o novo ajuste fiscal do governo Lula-Alckmin;

6)  Tendo em vista que os negros são a esmagadora maioria das vítimas das chacinas policiais, como a chacina de Paraisópolis, a da baixada santista com as operações de Tarcísio e Derrite, e em vários estados do país, e que as mães e familiares de vítimas de violência do Estado têm se levantado no Brasil todo, declaramos nosso total apoio à luta por justiça contra a violência policial e reforçamos a luta pelo fim das operações policiais que assassinam a juventude negra e o povo trabalhador em todo o país, sem nenhuma confiança no Judiciário. Confiamos apenas na força da nossa mobilização para arrancar justiça e pela punição dos responsáveis pelos assassinatos. Pelo fim dos tribunais militares! Lutamos pelo julgamento dos policiais por júri popular composto pelos pares das vítimas, e pelo fim da polícia, essa instituição racista e assassina;

7)  Reafirmamos a nossa luta em defesa das cotas étnico-raciais na graduação e pós-graduação (lato sensu, stricto sensu e pós-doutorado e na contratação de professores, rumo ao fim do vestibular. Pela ampliação de vagas na universidade para atender toda a demanda assegurando a contratação de professores e trabalhadores e a permanência estudantil a todos estudantes que necessitem. Implementação da Lei 10.639 no currículo dos cursos da USP;

8)  Reafirmamos nosso total apoio aos estudantes negros da Escola de Aplicação contra os casos de racismo que estão enfrentando e repudiamos os casos de racismo que vinham ocorrendo em unidades como o CESEB. Repudiamos a atitude da reitoria em impedir a liberação das trabalhadoras negras e negros para participar no IV Encontro das Trabalhadoras e Trabalhadores da USP;

9)  Lutamos pela unidade da classe trabalhadora e contra a precarização do trabalho defendendo os setores mais precarizados e terceirizados. Nesse sentido reafirmamos a luta por iguais direitos e salários para os trabalhadores terceirizados começando pela garantia do BUSP como parte de uma luta mais ampla e pela sua efetivação sem necessidade de concurso público. Extensão a todos os trabalhadores terceirizados dos Prêmios de Excelência Acadêmica e eventuais abonos;

10)  Abaixo a escala 6×1!! Redução da jornada de trabalho para 30h semanais sem redução dos salários!! Lutamos em defesa da igualdade salarial entre negros e brancos, entre homens e mulheres, imigrantes e nativos;

11) Defendemos que as lutas contra as opressões sejam encampadas por todos os trabalhadores, unificando nossa classe e combatendo sempre que necessário de forma educativa e firme entre as trabalhadoras e trabalhadores todas as formas de opressão, como ideias alheias aos interesses da classe trabalhadora e que só servem à exploração e aos interesses da classe dominante;

12)   Rechaçamos o Projeto de Lei da Uberização que está a serviço das empresas de aplicativo e contra os trabalhadores precarizados. Defendemos plenos direitos trabalhistas para os trabalhadores precarizados de aplicativo, com o reconhecimento do vínculo de emprego e que as centrais sindicais organizem um plano de lutas que levante com força essas demandas;

13)   Referendamos a proposta aprovada no 8º Congresso das trabalhadoras e trabalhadores da USP em total apoio ao povo palestino, pelo fim do massacre em curso e por uma Palestina Livre do Rio ao Mar, operária e socialista. Pela ruptura das relações do Brasil com o Estado de Israel e dos convênios da USP com Israel;

14)   Repudiamos a nova intervenção militar no Haiti!! Pelo direito à autodeterminação do povo haitiano! Fora tropas do Brasil e da Monusco (Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo) da República Democrática do Congo! Todo apoio à mobilização popular em curso em Moçambique;

15)   Abaixo o plano de deportação em massa de imigrantes anunciado por Trump nos EUA. Abaixo os discursos nacionalistas e xenófobos contra os imigrantes. Reafirmamos todo apoio aos trabalhadores imigrantes africanos, haitianos, bolivianos, venezuelanos e das diversas nacionalidades;

16)   Abaixo o Marco Temporal, pela imediata demarcação de todas terras para indígenas e quilombolas;

17)   Em defesa da liberdade de culto e contra a perseguição às religiões de matrizes africanas;

18)   Em defesa das manifestações culturais negras (como a Capoeira, o Samba, Congada, Jongo entre outras) historicamente perseguidas e criminalizadas pelo Estado e pela polícia racista.

19) Por uma política que atenda de forma efetiva a saúde integral da população negra mapeando e desenvolvendo tratamentos para doenças com maior incidência entre negras e negros tal como anemia falciforme, hipertensão, diabetes, entre outras assim como todos os tipos de doenças psicológicas provocadas pelo racismo.