Chega de segregação racial e de gênero na USP!
Neste ano, a Universidade de São Paulo comemora 90 anos de sua fundação. Embora a USP siga tendo destaque em rankings internacionais, ela carrega em seu interior contradições e desigualdades profundas que precisam ser encaradas.
Na universidade existem milhares de trabalhadoras e trabalhadores de empresas terceirizadas que, cotidianamente, realizam atividades de limpeza, vigilância, manutenção, copeiragem, alimentação, jardinagem entre outras. Essas atividades são essenciais para que a pesquisa, as aulas e a extensão da universidade possam se desenvolver. São muitos os casos de em que essas trabalhadoras e trabalhadores permanecem durante anos e até mesmo décadas desempenhando suas atividades na universidade, ainda que em unidades diferentes. São parte constitutiva fundamental daquelas mãos que construíram e constroem a USP.
A maioria dos trabalhadores terceirizados da USP são mulheres, principalmente negras, de origem nordestina, além de imigrantes de países como o Haiti. Esse enorme contingente de trabalhadores e trabalhadoras recebem salários inferiores em comparação ao dos trabalhadores efetivos. Além dos salários menores, padecem com as condições de trabalho precárias em que a falta de materiais de trabalho, EPIs, espaços adequados para alimentação, higiene e repouso se somam aos recorrentes casos de assédio moral e sexual, atrasos de salários, benefícios e direitos.
Estimamos que existam mais de 5 mil trabalhadores terceirizados na USP e esse número aumenta todos os anos, pois a atual política da Reitoria avança na extinção de funções e serviços, entregando-os a empresas e fundações privadas. O número exato de trabalhadores e trabalhadoras nessas condições não é divulgado pela USP e é chamativo que sequer constem no Anuário Estatístico da USP como parte da demografia que compõe a comunidade universitária.
É no mínimo uma contradição flagrante que, em um país com marcas tão profundas do racismo, da opressão patriarcal e da desigualdade social, a USP, que carrega em seus princípios éticos a defesa da “justiça, dignidade humana, solidariedade”, negue às trabalhadoras e aos trabalhadores terceirizados o direito ao cartão BUSP. A atual gestão reitoral tem no seu discurso a defesa da “inclusão, diversidade e pertencimento” enquanto sobrevive uma injustificável afronta às mínimas condições humanas e trabalhistas e ao mínimo respeito aos princípios da igualdade social, racial e de gênero ao ser negado o direito tão elementar de circular no campus gratuitamente nos ônibus circulares, algo que assegurado *a* todos os trabalhadores efetivos, estudantes e docentes. O resultado disso é a triste imagem cotidiana de multidões de mulheres e homens percorrendo a pé, madrugada adentro, o campus universitário, sujeitos ao frio, chuva, assédio, esforço físico, gasto extra de tempo, inúmeras dificuldades para poder trabalhar dentro desta universidade por salários baixos e extenuantes jornadas de trabalho.
Vemos hoje tomar a grande mídia o debate sobre a escala 6 por 1, o direito à vida além do trabalho. Hoje na USP são as trabalhadoras terceirizadas que cumprem essa escala. Se há vida além do trabalho, por que as trabalhadoras terceirizadas não tem direito sequer de abreviar o percurso ao trabalho podendo utilizar o circular da USP?
Nesta reunião do Conselho Gestor do Campus da Capital em que será votado o seu Plano Diretor, defendemos que seja aprovada a proposta de extensão do BUSP para todas as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da USP. Esta proposta é defendida pelo SINTUSP, bem como apoiada pelo DCE-Livre da USP, Associação de Docentes da USP, Associação de Pós-graduandos da USP, Núcleo de Consciência Negra da USP, diversos Centros Acadêmicos e por milhares de entidades sindicais, estudantis, do movimento negro, parlamentares e intelectuais que assinaram o Manifesto Contra Terceirização e Precarização do Trabalho.
Por tudo isso, vimos pedir o apoio dos conselheiros no sentido de aprovar o trecho do plano que propõe garantir o cartão BUSP a esses trabalhadores, um gesto pequeno na diminuição da precarização do trabalho na USP, mas de grande importância para aliviar a renda mensal desses trabalhadores.